Conceição não acerta. Foi toda uma viagem de autocarro a fazer e a desfazer o trabalho de crochê que tem em mãos. “Vou aqui distraída a ver por onde vamos e não saio disto”, desabafa, aos 75 anos.
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Conceição e as colegas, todas reformadas, levaram as agulhas a passear de autocarro pelo concelho de Famalicão para “socializar” e “dar vida às viagens”.
Os trabalhos em crochê, tricô e bordados sempre foram artes que gostaram de fazer e é no Clube Sénior da Associação Gerações, sediado em Famalicão, que dão vida a essa paixão.
A “Viagem das Agulhas” é uma das atividades do clube que permite a “socialização e a partilha de experiências” entre o grupo de mulheres que integra o projeto, mas também com os passageiros. “Vamos no autocarro que estiver disponível, vamos sem destino”, conta Raquel Leitão, coordenadora do projeto. E é já dentro da camioneta, cada uma no seu banco e com o seu trabalho em mãos que a viagem se inicia. O percurso começa na central de camionagem e, a cada paragem, entra um novo passageiro.
Francisco até tentou
A primeira passageira mete logo conversa com Conceição e afiança que também costuma tricotar. “No autocarro não, não consigo”, avisa. “Mas gosto muito, desde sempre”, complementa. Mesmo enquanto conversam as donas das agulhas não param de tricotar. Ericina não desvia a atenção da obra em curso, mas, ao mesmo tempo, vai observando os locais por onde vai o autocarro. “Estamos onde? Nunca tinha passado aqui!”, aponta, enquanto percorre o interior de Gondifelos e vai ouvindo as explicações de uma das viajantes do autocarro.
As agulhas não param e, se na viagem com destino a Gondifelos, nenhum passageiro quis experimentar as artes manuais, na volta o cenário mudou. Francisco, de 17 anos, experimentou para concluir que não era uma arte para ele. “Não tenho paciência, é difícil”, confidenciou, ao tentar dar umas laçadas de crochê sob a orientação de Ana Maria, de 67 anos. Uns minutos depois, Carolina juntou-se. Tenta também, mas a linha e as agulhas finas do crochê não facilitaram.
“A minha avó já tentou ensinar-me, não é muito fácil”, apontou. No final do percurso, que terminou onde começou, o entusiasmo dos dois jovens e do grupo era visível. “Além da conversa, dos jovens que experimentaram, ainda passamos por sítios que não conhecíamos”, resumiu o grupo. “Para quem viaja é sempre tudo muito silencioso e estas senhoras estão sempre a mostrar [a sua arte] e as pessoas querem ver o que estão a fazer. É uma questão de dar vida a estas viagens”, conclui Raquel Leitão.