Após longas obras de restauro, a igreja de Santa Clara abre ao público no dia 22 com o interior repleto de teatralidade e revestido por uma impactante e luminosa talha.
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Dentro de uma semana, o Porto vai incluir nos seus roteiros turísticos uma nova joia arquitetónica. A igreja de Santa Clara, situada na freguesia da Sé, passava despercebida e poucas pessoas a conheciam. Mesmo os portuenses pouco ou nada sabem deste templo, mesmo ao lado do Comando Metropolitano da PSP do Porto. As obras iniciadas em duas fases colocaram a descoberto todo o esplendor e elementos, como pinturas, até agora desconhecidos.
Quem circula pelo Largo Primeiro de Dezembro, na zona da Batalha, nem imagina o interior deste edifício de exterior simples e de base gótica. Foi o primeiro mosteiro feminino entre muralhas e alguns torreões da fortificação foram mesmo transformados pelas monjas clarissas em vigias. "Todo o interior é impactante e esmagador! Uma autêntica caixa dourada", explica Adriana Amaral, da Direção de Serviços dos Bens Culturais, da Direção Regional de Cultura do Norte, que procedeu ao restauro.
Desde 2014, mais de cem pessoas de diferentes especialidades participaram nos trabalhos. Primeiro no reforço estrutural e coberturas, na remodelação das infraestruturas elétricas, de telecomunicações e de segurança e, depois, numa segunda fase, na parte decorativa. A talha estava escurecida e pouco dourada e a madeira, em muitos pontos, tomada pelas térmitas. Foram gastos "muitos quilos de algodão" e centenas de cotonetes. O brilho voltou, assim como as cores exuberantes que antes estavam tapadas.
Órgão recuperado
A igreja apresenta-se agora como um cenário onde a teatralidade das esculturas se conjuga com o forte dourado e vibrantes tonalidades, nomeadamente azuis e vermelhos. O órgão de tubos foi recuperado e muitos outros tesouros escondidos foram colocados a descoberto.
O retábulo de Nossa Senhora da Conceição, o mais afetado pela ação das térmitas, escondia um fundo em azulejo e uma lápide de 1645 em granito em honra do Abade da Vandoma ali sepultado. No cimo da tribuna estavam pinturas sobre madeira, datadas do séc. XVII, que ilustram santos, nomeadamente Santa Clara e, sob os elementos de talha setecentista, encontravam-se pinturas de anjos alados, correspondentes a uma anterior campanha decorativa do espaço.
Manuel de Oliveira, funcionário do espaço, abre as portadas do coro alto onde as freiras, por trás de forte gradeamento, assistiam às celebrações. "Também aqui houve a necessidade de reforço da estrutura assim como na sacristia", salienta Adriana Amaral. No total foram gastos 2,5 milhões na preservação deste património agora devolvido à cidade.