Caso referenciado pela Câmara do Porto e encaminhado para o SEF, que só poderá verificar documentos. Serviços sociais da Junta foram ao terreno avaliar situação.
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Estava já sinalizado pela Câmara do Porto o acampamento de dezenas de imigrantes que vivem debaixo de um viaduto da linha de comboio, em Campanhã. O Município diz ter encaminhado o caso para o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), mas qualquer intervenção desta entidade estará limitada à verificação de documentos e nunca passará por soluções de acolhimento ou outras ajudas sociais. Aquele terreno é hoje a casa de marroquinos, argelinos e tunisinos que, sem capacidade financeira para suportar os custos de uma habitação, e recusando-se a viver em espaços sobrelotados, encontraram ali um último refúgio na busca por uma vida melhor. Estão todos à procura de emprego.
A situação surpreendeu, por outro lado, a Junta de Freguesia, que desconhecia o caso. Ontem mesmo, perante a reportagem do JN, os técnicos sociais da Junta dirigiram-se ao acampamento para perceber que apoios poderiam ser prestados. Até porque, nota o presidente Paulo Ribeiro, a Junta "consegue alguma alimentação para dar a essas pessoas" através de várias IPSS. "Quando nos contactam, tentamos, através da Segurança Social, encaminhá-los para um centro de acolhimento", acrescenta o autarca. São precisamente as cantinas sociais e outras associações que têm permitido ao grupo de 27 imigrantes alimentar-se diariamente e tomar banho.
A Segurança Social não respondeu em tempo útil. O JN questionou também a ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares, que remeteu o assunto para o Alto Comissariado para as Migrações. Por sua vez, esta entidade também não respondeu em tempo útil.
imigração "triplicou"
O grupo de imigrantes que está a viver em Campanhã é só uma agulha no palheiro de problemas que rodeia a imigração. Pelo SEF, estão contabilizados 58 074 cidadãos estrangeiros legalizados nos 17 concelhos da Área Metropolitana do Porto. Destes, 32,6% vivem na cidade do Porto. Ou seja, 18 950.
Mas estas contas são de quem tem a documentação em dia. Falta toda uma outra fatia de quem, como o grupo de 27 pessoas que dorme em tendas em Campanhã, está em situação ilegal, não consegue encontrar trabalho nem uma morada permanente. E há quem, apesar de ter emprego, não receba salário suficiente para arrendar uma casa.
Shah Alam Kazol, presidente da Associação Comunidade do Bangladesh do Porto, nota que o fenómeno da imigração na cidade "triplicou" desde 2019. Ao crescimento de cidadãos estrangeiros, soma-se a subida do preço do imobiliário. Para suportar as despesas, "a maior parte dos imigrantes junta quatro ou cinco pessoas para partilhar despesas", conduzindo à sobrelotação dos espaços.