Empresas lutam com muitas dificuldades para conseguirem atrair gente para vários setores de atividade. Exigem leis mais flexíveis e apoios fiscais para ajudar a fixar pessoas.
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As empresas do Interior do país têm cada vez mais dificuldades para arranjar trabalhadores. Muitos dos que nascem lá vão procurar oportunidades em outros locais do país ou do estrangeiro, geralmente com três objetivos: mais estabilidade laboral, maior rendimento e mais serviços para eles e para a família. E é pela escassez destas exigências que também não se consegue atrair pessoas de fora.
O presidente da Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes, Jorge Fidalgo, é perentório: "Uma empresa de construção civil arranja hoje uma obra e precisa de dez trabalhadores, mas quando a acabar já só precisa de dois ou três. Um restaurante está bem hoje, amanhã pode fechar. Não há estabilidade no emprego. Os postos de trabalho públicos são muito poucos. As pessoas de cá não vão embora se tiverem um emprego estável e uma remuneração para organizar a sua vida pessoal e familiar".
Saúde e educação
O também autarca de Vimioso dá outro exemplo aplicado a este concelho do distrito de Bragança: "Se uma pessoa tiver um problema de saúde às 20.05 tem de ser atendido em Bragança porque o centro de saúde já fechou. Que confiança é que se gera nas pessoas? Não há Ensino Secundário. Os jovens fazem o 9.º ano e a seguir têm de ir estudar para outro concelho. E quando mais cedo se sai, tarde ou nunca se regressa".
Vimioso é apenas um de muitos exemplos de concelhos com carências em vários campos que podem ter um peso significativo na hora de alguém decidir ir viver para o Interior. Mesmo nos municípios com mais população há problemas de atratividade. É o caso de Bragança, com destaque para os setores da hotelaria e restauração que estão a braços com uma grande carência de trabalhadores, principalmente qualificados e com experiência. O problema vai ganhar dimensão no verão com o aumento do número de turistas e o regresso dos emigrantes para férias.
O que se passa em Bragança passa-se em Vila Real, Viseu ou Guarda e, em suma, em toda a faixa interior do continente. E tanto faz serem pequenas como grandes empresas. A Visabeira, por exemplo, empresa grande sediada em Viseu, tem vagas em diversas áreas, desde as telecomunicações à hotelaria, e assume dificuldades em fixar, nomeadamente, engenheiros.
O presidente da Associação Empresarial de Bragança (NERBA), Hélder Teixeira, revela que os que mais falta fazem, neste momento, são "trabalhadores com perfil técnico", como "picheleiros ou trolhas", só para dar alguns exemplos, e "pessoas para desempenhar tarefas sazonais na agricultura". Os licenciados "são atraídos por zonas do país ou do estrangeiro onde se ganha mais", o que também cria "carência de pessoal qualificado", nomeadamente em áreas como "a saúde e a informática".
Falta de comunicação
O presidente da Associação Empresarial de Vila Real (NERVIR), Mário Rodrigues, fala na falta de "empresas mais globais que possam operar em mercados alargados e com isso terem mais faturação e pagarem melhores salários". Por outro lado, "há oportunidades que não são bem comunicadas". Refere-se, por exemplo, à "centralidade de Vila Real" em relação ao Norte, para salientar o benefício de "estar perto de tudo, com muito mais qualidade de vida, sem ter de morar e trabalhar no Litoral".
Para amenizar ou até inverter a situação, Hélder Teixeira diz que seria necessária "legislação que fosse mais flexível, nomeadamente ao nível do IRS e da Segurança Social, para ajudar a criar mais empregos e com menor custo". Reforça que "manter um posto de trabalho significa suportar muitas taxas e muitos impostos".
Mário Rodrigues dá o exemplo do guia fiscal do Interior que tem sido rotulado de "pouco ambicioso", já que inclui medidas que "não são suficientemente atrativas para ir viver para o Interior".
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Serviços públicos
O presidente da Câmara de Vimioso, Jorge Fidalgo, defende a descentralização de serviços públicos do Litoral para o Interior do país.
Técnicos superiores
Vimioso conseguiu fixar mais de uma dúzia de técnicos superiores ligados a associações que desenvolvem atividades na área do ambiente, porque há condições e apoios municipais para que o possam fazer.
Projetos de borla
A Câmara de Vimioso vende terrenos na zona industrial a um cêntimo por metro quadrado e os investidores não pagam licenciamento. E oferece, a quem se quiser fixar, projetos aprovados para a construção da casa de habitação.