A "montanha" de inertes retirados das ribeiras da Madeira deverá servir para fazer avançar o Funchal mar adentro e criar novas urbanizações na cidade.
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Este é um projecto para utilizar os inertes arrastados pelas enxurradas no temporal que assolou a Madeira a 20 de Fevereiro e "visa alargar certas zonas de costa do Funchal", disse à Lusa o presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim.
"Quem não concordar tem de me derrotar eleitoralmente ou ao candidato que o PSD apresentar", avisou.
Para concretizar esta ideia, "vai pegar-se no que sobrou desses entulhos e fazer-se as novas urbanizações que forem adequadas. Claro que isso não pode ser ad hoc, tem de ser um projecto muito bem pensado", afirmou.
Jardim defendeu que "é preciso que os portugueses se lembrem que a Holanda foi conquistada ao mar, o Mónaco também e que há muitos países cujo exemplo foi a conquista ao mar, que permitiu inclusivamente defender o território já construído".
Confrontado com as reticências dos ecologistas a projectos desta natureza, Jardim recordou tratar-se dos mesmos que "diziam para não se tirar pedras das ribeiras e vieram as ribeiras em cima de nós".
"Diziam também que não se deitava nada no mar e a costa desprotegida foi arrasada pelo mar. Portanto acabou e nem quero ouvir falar neles", acrescentou.
Questionado sobre se vai convidar José Sócrates para a Festa da Flor, a 18 de Abril, momento que quer transformar num virar de página em relação à intempérie, Jardim disse não ter ainda pensado no assunto.
"O primeiro-ministro para vir à Madeira não precisa de um convite meu. Se vier, eu terei o maior prazer, mas ainda não sei como vou organizar a Festa da Flor (...). Tenho todo o prazer em contar com a presença do primeiro-ministro, dada a solidariedade e a operacionalidade que ele vem demonstrando", frisou.
Jardim deixou ainda claro: "Da minha parte [o bom relacionamento] vai continuar. E faço fé da palavra do primeiro-ministro, pelo que creio também que da parte deles vai continuar".
O líder madeirense afirmou que "o que causou o prejuízo [na intempérie] foi a enorme quantidade de materiais que desde as alturas dos 1600 metros vieram por ali abaixo."
"É um efeito bola de neve: " à medida que desce, o entulho vai provocando cada vez mais derrocadas. Enquanto há uma inclinação os inertes vão-se deslocando mas a partir do momento em que chegam perto do mar às zonas planas ficam depositados."
"Como não houve nenhuma urbanização nas zonas altas de onde vieram os materiais, certamente quem tenta aproveitar esta situação para fazer política são uns indivíduos execráveis", acrescentou.
Jardim admitiu que "muita gente na Madeira foi fazendo a sua casinha onde tinha um bocadinho de terreno. Isto já vem dos tempos da Monarquia. Talvez se tenha permitido que, para não terem de comprar terreno novo, fossem construindo naquele que já tinham".
"Isto é humano e socialmente compreensível. Penso que teremos de sacrificar parte do social para obrigar a uma maior disciplina no ordenamento do território. Mas isso vai ter um preço social grande", avisou.
O temporal que assolou a Madeira a 20 de Fevereiro provocou 42 mortos, oito desaparecidos e 600 desalojados.