João Pedro tem 18 anos e recupera de uma cirurgia num quarto cheio de humidade, onde entra água.
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Na mesinha de cabeceira, as gotas de água formam uma pequena poça e à entrada do quarto o tapete ampara a chuva que teima em infiltrar-se. Rodeado por paredes já pouco verdes e cobertas de humidade, está deitado João Pedro Fernandes. Tímido e de poucas palavras, o jovem de 18 anos recupera de um cancro que o atirou, no início do mês, para uma cirurgia de 12 horas. Foi diagnosticado com cancro em agosto, quando o tumor já se havia estendido pelas vértebras, osso sacro e criado metástases no pulmão.
"Foi muito duro", conta ao JN Daniela Ribeiro, que trata do jovem como um filho. "Tiraram-lhe duas vértebras da coluna que foram substituídas por próteses."
Agora, duas semanas depois da cirurgia, João teve de regressar a casa, em Baguim do Monte, Gondomar, onde as paredes se cobrem de humidade e os tetos estão seguros por tábuas, pregos e fita-cola. Para tomar banho, é preciso sair de casa e chegar ao anexo, onde há uma casa de banho também a cair aos pedaços.
"O que me custa mesmo é ver o 'meu filho' a viver assim", lamenta Daniela.
"Quero voltar a andar"
Os sonhos do jovem são curtos como a idade. Aos 18 anos, não pensa em epopeias. "Estou muito cansado ainda. O meu sonho é voltar a andar e ter um quarto em que possa ter privacidade", revela, entre dentes, usando a pouca força que tem. Por agora.
Sair da casa parece ser impossível. No agregado familiar, constituído por mais três pessoas, o marido de Daniela e tio de João, a avó e uma tia, também doente oncológica, apenas uma pessoa ganha ordenado. "É impossível alugar uma casa onde caibamos todos".
O terreno da casa foi comprado e os moradores estão à espera de ser realojados pelo novo proprietário, o que dificulta o processo para deixar a habitação.
A juntar a estas fragilidades, são atormentados por retroescavadoras que fazem abanar as paredes. Nas traseiras está a nascer um hipermercado e os trabalhos não dão descanso a quem ali vive.
Ao JN, a Câmara de Gondomar lembrou que "é da responsabilidade dos senhorios a manutenção" das habitações, mas que conhece a situação do João "e já disponibilizou apoio". Também o presidente da Junta de Baguim do Monte está a par da situação desta família e só recentemente soube que o João tinha sido diagnosticado com cancro.
O JN tentou contactar a Segurança Social, que não respondeu em tempo útil.