Surfista que tirou do mar um dos dois sobreviventes lembra momentos de aflição e o desespero do familiar. Buscas por desaparecido continuam.
Corpo do artigo
"Perdi o meu primo". Estas foram as primeiras palavras de Tiago Gonçalves, o jovem de 19 anos resgatado, na terça-feira, de uma zona de agueiros (correntes fortes) do mar da praia da Barra, em Ílhavo, quando o surfista Tomás Arroja o alcançou e salvou. A amiga, Ema Gomes, de 15 anos, que estava com ele, também foi salva por pessoas que estavam no areal e surfistas. O primo, Alcino João Roque, 20 anos, continua desaparecido.
Tomás Arroja tem apenas 17 anos mas surfa na Barra há 10 anos. Tinha acabado de chegar à praia e estava no paredão sul, a 100 metros do local, quando se apercebeu de movimentações e ouviu gritos no areal. Correu e, sem hesitar, entrou na água e foi ao encontro de Tiago Gonçalves, que estava mais afastado da costa que Ema.
"Agarrou-se a mim e disse: "Falta o meu primo, perdi o meu primo"", insistindo repetidamente para o procurarem, contou o jovem surfista ao JN. Tiago Gonçalves estava "em aflição e vomitava muita água". Ele próprio, acrescenta o surfista, estaria já à procura do primo, mas perdera as forças e estava a afogar-se. Estava tão fraco que teve de ser transportado para o areal "em cima da prancha", conta o aluno do 12.º ano da Secundária Mário Sacramento, em Aveiro, obrigado a nadar com força para ultrapassar a zona de correntes.
Antes ainda alertou outros surfistas que estavam na água que faltava uma pessoa, mas não o encontraram.
Buscas alargadas
Na quarta-feira, as autoridades continuaram as buscas por mar, ar e terra, entre o paredão sul da Barra e a praia da Costa Nova, até às 20 horas. A corveta João Roby (navio da marinha portuguesa) e duas embarcações da Autoridade Marítima estiveram na água. Um helicóptero e uma aeronave da Força Aérea Portuguesa procuraram sinais a partir do céu.
Em terra, patrulhas da Polícia e dos bombeiros percorreram o areal. Mas Alcino João Roque continua desaparecido, para desespero da família e amigos que receberam apoio do gabinete de psicologia da Polícia Marítima.
Esta quinta-feira, as buscas recomeçam pelas sete horas e serão "alargadas até à praia da Vagueira", no concelho vizinho de Vagos, disse o comandante da Capitania de Aveiro, Silva Rocha.
Os esforços serão direcionados para as buscas em terra, mas uma embarcação irá continuar a procurar no mar.