"Julguei que ia morrer dentro daquele comboio" ou "o comboio até parecia que ia de lado" são alguns dos testemunhos que inundam as redes sociais e que dão voz aos momentos de pânico vividos na noite desta quarta-feira, no interior do comboio sobrelotado na Linha de Sintra, que parou, depois dos passageiros terem puxado o travão de emergência, por haver pessoas a sentirem-se mal.
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Foi o pior pesadelo para quem tentava regressar a casa, ao final da tarde desta quarta-feira, após uma jornada de trabalho. Em mais um dia de uma greve - das várias que se repetem há semanas em períodos intercalados - e já tem prolongamento anunciado, a composição da CP que efetuava os serviços mínimos na Linha de Sintra não chegou a Benfica, a primeira paragem a seguir ao ponto de origem (Sete Rios ).
Com demasiada gente no interior, muitos encavalitados em cima de outros, e janelas fechadas, houve quem não aguentasse a falta de ar respirável. E, por esse motivo, alguém acionou o travão de mão. As portas abriram-se e, já com a presença de agentes da PSP, os passageiros saíram para o exterior e caminharam até à estação de Benfica.
"Meus Deus julguei que ia morrer dentro daquele comboio", escreve Rosa Jesus no Facebook, recordando o "inferno" que viveu. Na mesma rede social, Ilda António assinala que o comboio "parecia até que vinha de lado com tantos passageiros".
Para além de greves sucessivas ainda têm este tipo de atitudes, foi desumano, vergonhoso!
A par dos relatos de pânico não faltam os que apontam o dedo à greve prolongada e também à falta de informação durante os momentos em que estiveram fechados no interior das carruagens. "O maquinista da CP podia no mínimo ter informado as pessoas da situação mas não, ficamos uma hora fechados no comboio sem informação nenhuma sem perceber o que se tinha passado", observa Lau Dias, numa publicação no Facebook em que acrescenta: "Para além de greves sucessivas ainda têm este tipo de atitudes, foi desumano, vergonhoso!"
No Twitter, um utilizador que se apresenta apenas como Tiago, corrobora as críticas. "Uma hora fechados dentro de um comboio completamente a abarrotar, a meio da linha no meio do nada, sem fazerem absolutamente nada. Tiveram que chamar a polícia para nos encontrarem e abrir as portas para as pessoas começarem a sair", conta.
Mas o incidente desta quarta-feira é o mote para que outros recordem que, independentemente da greve em curso, a Linha de Sintra apresenta problemas de fundo muito graves, que afetam mais de meio milhão de pessoas, somatório das populações dos concelhos de Amadora (171 mil) e Sintra (385 mil).
Os comboios da linha de Sintra são uma tragédia à espera de acontecer
"Se ao menos fosse só em dias de greve... Mas não. A CP sempre ao mais alto nível!
Felizmente que tudo acabou bem! Mas os comboios da linha de Sintra são uma tragédia à espera de acontecer!", descreve Sílvia Pereira, no Facebook.
Já Rafael Lobato pergunta no Twitter: Por quanto mais tempo o governo vai continuar a ignorar a linha de Sintra? É para eternizar os problemas já existentes antes da pandemia?" e lamenta a falta de uma oferta eficaz do serviço para um universo populacional tão vasto. "É inadmissível uma das linhas com maior afluência de passageiros na Europa ser servida por um comboio de 10 em 10 minutos em hora de ponta", escreve.
Também Elsa Semedo, no Facebook deixa o reparo às condições que os passageiros enfrentam no dia-a-dia, sobretudo durante os períodos de greve. Ontem [esta quarta-feira] os que estavam na estação tentavam entrar e éramos empurrados pelas pessoas que estavam dentro do comboio cheio até as bordas", conta.
Entre os relatos e as críticas, ficam ainda mensagens para o Governo, a quem muitos apontam culpas por ignorar uma greve que se arrasta desde fevereiro e que termina esta quinta-feira, mas já tem continuação assegurada para dentro de uma semana.
A falta de um serviço contínuo faz ainda com que outros apelem a "boicote aos passes", alegando estarem a pagar por um meio de transporte, que não assegura as ligações diárias que necessitam.