O presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, Nuno Cruz, disse, esta segunda-feira, que a Junta não tem dinheiro para reabilitar o Mercado de São Sebastião, na Sé, e que vai entregar a obra à Câmara do Porto. "Vamos assumir o incumprimento e entregar a obra", declarou.
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Nuno Cruz explicou que a intervenção ficaria "acima dos 200 mil euros".
Através de um programa camarário, o Orçamento Colaborativo, a União de Freguesias já recebeu 100 mil euros para o Mercado de São Sebastião, pelo que "terá de negociar a melhor maneira de pagar essa dívida", acrescentou o autarca. Também foi referido que 25 mil euros foram gastos no projeto "Biblioteca das Coisas". A dívida a saldar será de 75 mil euros.
"A Junta não tem dinheiro", reiterou Nuno Cruz, numa sessão pública que serviu para discutir o futuro do mercado e que juntou vendedoras, empresários e moradores da Sé. Falou-se de um projeto, datado de 2019, para reabilitação do espaço, mas que nunca foi avante.
Presente na sessão, o arquiteto Nuno Campos, o autor desse projeto, adiantou que já na altura a verba de 75 mil euros não era suficiente para executar a obra e que a ideia dos responsáveis da Junta, naquele mandato, passaria por encontrar patrocinadores.
Na sessão pública, muito participada, as opiniões dividiram-se. O mercado, agora praticamente esvaziado, conta apenas com cinco vendedoras e mesmo entre o quinteto não há unanimidade. Aida, uma das comerciantes, disse que "já não vale a pena fazer obras". Maria da Graça, florista há mais de 50 anos, manifestou, igualmente, o desalento. "O melhor era mandarem-nos embora. Somos cinco e não temos condições", sublinhou.
Por sua vez, Glória Sousa, uma vendedora já reformada, referiu que "com obras e fiscalização, o mercado voltaria a funcionar" como noutros tempos. "Se isso acontecer, volto", prometeu.
O fenómeno da toxicodependência na zona e a falta de higiene nas ruas circundantes foram duas das críticas quanto às atuais condições, embora Nuno Cruz tenha ressalvado que o local é limpo todos os dias. Empresários com negócios nas redondezas sugeriram outras soluções em alternativa ao mercado. António Rocha, proprietário de um restaurante, colocou a hipótese de ali ser criado um jardim. Pela mesma ideia alinhou um investidor em alojamento local. Parque infantil ou de estacionamento foram outras possibilidades mencionadas.
Entre os moradores, há quem defenda a continuidade do mercado. Foi o caso de Maria José Alçada: "Sou moradora na Sé há 54 anos. Fizeram-se grandes obras no Bolhão, porque é que não se investe também no São Sebastião? Devia ser reabilitado".
Entretanto, para um local muito próximo, e tirando partido dos muitos turistas que visitam o Centro Histórico do Porto, Nuno Cruz anunciou que está nos planos da União de Freguesias a criação de uma feira para a venda artigos tradicionais. Ficará situada no cruzamento da Rua Escura com a Avenida Afonso Henriques. O sítio é conhecido como Redondelo.