A Lipor é o espelho de quem nela trabalha. Por isso, em ano de aniversário redondo, são esses os rostos mais importantes. De Fernando, que tem a mesma idade da empresa, ou de Emanuel, que começou como segurança e hoje é controlador de qualidade e o representante de todos os funcionários.
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Começou, ainda novo, por trabalhar numa tipografia. José Carlos Sousa foi encadernador, arte que aprendeu mas que não rendia. Casado, com duas filhas, acabou por mudar de vida e entrou "no mundo do lixo" numa altura em que a Lipor "ainda não tinha condições". Foi há 33 anos. "Entrei numa linha de moagem de lixo que era colocado em pilhas durante uns meses para apodrecer", conta, retorcendo o rosto como que a recordar o mau cheiro que entranhava e que levava para casa.
Tudo se alterou em 1999, quando entrou em funcionamento o centro de triagem. Um salto de modernidade que marcaria a empresa e todos os seus trabalhadores. Neste momento, José Carlos está na linha multiusos onde vão parar os materiais provenientes de ecocentros e empresas. Regula a velocidade do tapete que leva os resíduos até à mesa de separação onde é aproveitado o filme (plástico).
O perigo espreita, fruto da ainda deficiente sensibilização ambiental e da má separação de resíduos em casa ou nas empresas. Surgem seringas, very-lights e até granadas. Mas os trabalhadores têm formação em minas e armadilhas. "Não trocava esta profissão por nenhuma outra. Isto não é passar o dia no lixo. É cuidar do ambiente", conclui José.
Junto a um amontoado de raízes de árvores trituradas, está Emanuel Maia que é controlador de matérias de biorresíduos. Entrou na Lipor há 18 anos. "Vim para aqui através de uma empresa de segurança e assisti à construção deste setor", conta, enquanto as carrinhas e camiões chegam com restos de resíduos verdes, raízes e bocados de plantas de jardim. Detritos provenientes dos serviços de vários municípios associados, mas também de privados. Tudo é inspecionado antes de ser triturado não vá uma pedra ou um pedaço de metal danificar a máquina que desfaz os resíduos.
O produto segue depois para a central de valorização orgânica onde é junto aos resíduos alimentares, oriundos da recolha porta a porta e dos restaurantes. Também eles bem vistoriados, pois por vezes surgem talheres e pratos. "Tudo isto entra depois num túnel onde os microrganismos fazem o seu trabalho durante 12 dias, o mesmo tempo que depois fica na maturação", explica o controlador de qualidade. Este orgânico, o famoso Nutrimais, é depois ensacado.
Emanuel sempre gostou de agricultura. No setor há um outro controlador e mais três funcionários de apoio. Ao lado constrói-se a nova linha de triagem para os verdes dos cemitérios. Entrará em funcionamento em outubro.
As instalações da Lipor abrangem freguesias de dois concelhos. De um lado Ermesinde (Valongo). Do outro Baguim do Monte (Gondomar). E percorrer o espaço é como visitar um parque temático. Numa das pontas está um dos centros de Recuperação de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos. Filipe Bernardino está a reparar um micro-ondas vintage.
"São recolhidos nos ecocentros móveis e através da recolha de monstros domésticos. O que se pode reparar é depois entregue a instituições de solidariedade. Ao que não se aproveita são retiradas as peças e vai para a reciclagem", conta o técnico. Entrou na Lipor, "à experiência", há 14 anos e a rede CREW é fruto do seu trabalho. Dois espaços de tratamento, um de pequenos e outro de grandes eletrodomésticos, que funcionam como áreas de formação e capacitação que promovem a recuperação de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE).
"Entram aqui como uma dona de casa cansada e saem daqui como uma noiva apetecível!", diz Filipe, sempre bem-disposto. O objetivo é "reparar mas gastar o mínimo possível, custo zero". Há micro-ondas, varinhas mágicas, ventoinhas, torradeiras e prensas. Mas também televisores e máquinas de lavar roupa.
Na Lipor, o conceito de economia circular é levado ao extremo e só as peças mais antigas, como máquinas fotográficas, rádios ou máquinas de escrever ficam na empresa para integrar um pequeno museu no centro, muito visitado pelos grupos escolares.
Quem passeia pelo Parque Aventura mal se apercebe que, por baixo dos seus pés e da verde relva que cobre o relevo acidentado e reflorestado das mais diversas espécies de árvores, se encontra o antigo aterro sanitário. A boa-disposição é percetível em todos os colaboradores, mas a felicidade está pautada no rosto de Fernando Coelho. Licenciado em Ciências e Tecnologias do Ambiente, está desde 2018 na Lipor como técnico de educação ambiental.
O parque é o resultado do projeto de selagem, recuperação e valorização ambiental e paisagística de uma área nada agradável mas que hoje se pode usufruir para a prática de atividade física e animação. "Ao visitante mostramos a fábrica, a estação de biogás, a horta biológica da Formiga e toda a biodiversidade do parque", conta Fernando junto aos baloiços e escorregas. Lá em baixo passa o guarda-rios Luís Ramos e acena. Vem do trilho ecológico ao longo do rio Tinto, da sua biodiversidade e suas estruturas de engenharia natural. É ali que está o moinho que alberga o Centro de Interpretação Ambiental do rio Tinto e que tem na sua fachada o peixe de Bordalo.
Para Fernando Coelho "é importante envolver os cidadãos neste processo". Aos fins de semana, o parque tem sempre um calendário de atividades bem recheado para toda a família.