Movimento une comerciantes da Praça de Carlos Alberto e arredores. Prometem dinamizar zona.
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São todos comerciantes na Praça de Carlos Alberto e ruas adjacentes, no Porto, e fazem parte de um movimento de "boa vizinhança", criado por Marta Gonçalves no Instagram, com o intuito de voltar a atrair público. Na rede social, através da publicação de fotografias, dão a conhecer os seus negócios, com tudo "o que se pode ver, comer e comprar na praça". E mesmo em pandemia, houve novos estabelecimentos a abrir portas.
Tempos houve em que os clientes, na sua maioria turistas, entravam pela porta "e não precisava de fazer mais nada". "Veio a pandemia, os estrangeiros deixaram de vir e dei comigo sem fichas de clientes", contou ao JN Mariana Sotto Mayor, dona da "Lighthouse", loja situada na esquina da Rua de Cedofeita com a Praça de Carlos Alberto.
O negócio de "marcas nórdicas de roupa e mochilas inglesas" tem vindo a "melhorar" graças ao público português, mas Mariana reconhece que "falta gente" nesta zona da cidade. "Vai-se vendendo, mas a margem de lucro não é como era", admite.
Pedro Bessa Monteiro, sócio-gerente do restaurante Solar do Moinho de Vento há 19 anos, na Rua de Sá de Noronha, defende que "o Governo devia novamente voltar a dar apoios". O empresário relata que há negócios, ali na zona da Praça de Carlos Aberto, "que desapareceram e outros que ainda não se conseguiram reerguer, porque só tinham clientes estrangeiros".
Com o menu composto por pratos como arroz de polvo, língua estufada ou sardinha petinga, Pedro ressalva que, nas redondezas, o seu estabelecimento foi "dos que menos sentiram a pandemia". E explicou a razão: "Sempre defendi: os clientes portugueses vão e voltam, enquanto os estrangeiros não. Nisso devíamos ser como os espanhóis - que defendem a sua identidade - e respeitar mais o que é português".
Com as ruas mais vazias do que noutros verões, o empresário elogiou a iniciativa promovida por Marta: "Traz atenção para os estabelecimentos e é sinal de uma boa vizinhança".
"A zona precisa de pessoas"
Jorge Fernandes rumou da capital quando decidiu abrir a Embaixada Lomográfica no Porto. Começou por estabelecer-se na Rua do Almada, mas mudou-se para a Praça de Carlos Alberto por ser "mais movimentada".
Ainda que reconheça que a zona está "meio vazia" - por conta das restrições pandémicas que obrigam os estabelecimentos a fechar mais cedo - não lhe faltam projetos. Daí que tenha sido dos primeiros a aceitar o desafio de Marta. "Esta zona precisa de pessoas!".
Atualmente, o estabelecimento, que já só se chama "Embaixada do Porto", é um espaço com loja e café/bar que privilegia o estilo retro e o analógico. Daí que na loja, com esplanada virada para a igreja do Carmo e Praça de Carlos Alberto, haja vinis, máquinas e rolos fotográficos, gira-discos, rádios, câmaras descartáveis, brinquedos e figuras colecionáveis.
Foi por reconhecer a importância desta "zona histórica" que Mário Neto, 33 anos, não teve dúvidas em aceitar o desafio de ficar à frente da centenária Confeitaria Aliança, na Rua de Cedofeita. Mas reconhece que "a rua precisa de um incentivo grande para voltar a atrair lojas de qualidade".
Para Mário, "devia haver uma gestão mais equilibrada por parte da Câmara", a fim de se criarem "oportunidades idênticas às que acontecem, por exemplo, na Rua das Flores". "Se houvesse mais iluminação à noite, já era uma ajuda".
Olinaldo Oliveira, natural da capital brasileira, é o mais recente "vizinho", tendo aberto a garrafeira Oli em março. "Com a pandemia consegui o sítio certo para a loja a um preço razoável", confidenciou.
Com o negócio a crescer "de mês para mês", Olinaldo reconhece "a zona com um incrível potencial". "Agora só é preciso agitar essa praça!", observou.
Igreja do Carmo
Os turistas chegam a esta zona da cidade atraídos por vários pontos de interesse, como a livraria Lello (na Rua das Carmelitas), ou pela beleza da igreja do Carmo. Muitas vezes, é cenário de produções de moda.
Mercado Porto Belo
Está de volta à Praça de Carlos Alberto o Mercado Porto Belo, criado há 12 anos. Todos os sábados, das 10 às 19 horas, o público pode descobrir novos projetos e negócios locais.
Foi há quase duas semanas que Marta Gonçalves criou a página "brunchnapraca" no Instragram, com "o intuito de divulgação do que se pode ver, comer e comprar" na Praça de Carlos Alberto e ruas próximas, no Porto. São publicadas fotos dos vários negócios que existem nesta zona, procurando atrair público. A relações públicas do Caçula Group contou ao JN que os restaurantes, que recebiam sobretudo "universitários e grupos de turistas", sofreram uma "quebra abrupta" por conta da pandemia e tiveram de "reinventar-se". Passaram, por exemplo, a servir brunch, "a partir dos 9,5 euros". A ideia de Marta com este movimento é "que os comerciantes se juntem e façam força para que a praça volte a ter mais gente". "Precisamos todos de um balão de oxigénio", resumiu Marta, ciente de que esta ferramenta pode também ser usada para promover iniciativas.