Atropelamentos de peões aumentaram em 2024. Distrações, sobretudo devido ao uso de auscultadores, explicam a maioria.
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Em dez anos, houve mais de 800 acidentes com veículos do metro do Porto, resultando em 1677 feridos (26 graves) e 17 mortes. Desse total, 182 dizem respeito a colisões com carros que se atravessaram na linha e 127 a atropelamentos de peões. Nestes casos, as distrações, sobretudo relacionadas com o uso de auscultadores, continuam a ser a principal causa de incidentes. E o número de situações com peões aumentou de 2023 para 2024, passando de 12 para 18.
Assim, a Metro do Porto admite avançar com mais iniciativas até ao final do ano, além da campanha de alerta que mantém no sistema de informação ao público, com avisos sonoros apelando à atenção de quem atravessa a linha, por forma a serem cumpridas todas as normas de segurança, incluindo o respeito pelas linhas amarelas que delimitam a zona onde se devem esperar pelas composições nas estações.
Mas é na hora de passar pelo canal do metro a pé que se multiplicam casos de desatenção. “Há pessoas que passam completamente absortas”, sublinha Ana Paula Gonçalves, diretora de Ambiente, Qualidade e Segurança da Metro, assinalando que o telemóvel é fator de risco.
Em junho de 2024, o JN já tinha noticiado que metade das mais de 60 pessoas atropeladas pelo metro nos cinco anos anteriores seguia com auscultadores. Os casos continuam a acontecer, apesar dos alertas.
Linhas à superfície
Quem usa auscultadores não se apercebe da aproximação dos veículos nem dos alertas sonoros. Um dos dois casos mortais ocorridos no ano passado é paradigmático: um homem de nacionalidade sueca, de 34 anos, foi colhido mortalmente por uma composição junto à estação de Francos, no Porto, quando seguia com fones nos ouvidos.
A travagem de um veículo que pesa entre 40 e 50 toneladas não é imediata e basta um ligeiro toque para a vítima ficar bastante maltratada. E isto, mesmo tendo em atenção que a velocidade comercial média dos veículos, em 2024, não tenha ultrapassado os 26 quilómetros/hora e nas zonas mais urbanas, com maior circulação pedonal, o metro circule bastante devagar. É o caso, por exemplo, da Ponte Luís I, entre Porto e Gaia, sempre com muito peões a partilharem o tabuleiro com as composições.
Atualmente, dos 69,8 quilómetros da rede de metro, só pouco mais de oito quilómetros (quase todos no Porto) são subterrâneos. As linhas são essencialmente à superfície, com o risco para peões desatentos a ser maior em zonas urbanas, como, por exemplo, as avenidas da República (em Gaia e Matosinhos), Brito Capelo (em Matosinhos), centro da Maia, ou a zona da Asprela, no Porto.
Como os incidentes com peões se revestem sempre de maior gravidade, a preocupação da empresa com a matéria não é novidade.
Já no relatório e contas de 2017 se dava nota da criação de um grupo de trabalho para analisar o problema. O relatório foi apresentado ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes, que também fez propostas, pelo que o trabalho de análise prosseguiu. Em janeiro de 2021, foram apresentadas as conclusões à Comissão Executiva da Metro do Porto. Não se indicam quais as medidas propostas.
Mas a questão da segurança dos peões antecede mesmo o início da operação do sistema, que ocorreu em dezembro de 2002. Ainda estavam as obras em curso e em zonas como Brito Capelo (Matosinhos) ou Asprela (Porto) multiplicavam-se as vozes de protesto e de receio com eventuais atropelamentos em série por parte das composições. De tal forma que a empresa organizou viagens a cidades europeias com sistemas de transporte similares, para mostrar, in loco, a representantes da população e de instituições locais, que o metro de superfície era seguro.
Invasão do canal
O facto é que a taxa de acidentes com veículos do metro é reduzida, tendo em conta os mais de nove milhões de quilómetros percorridos e os quase 90 milhões de passageiros transportados em 2024. Aliás, Ana Paula Gonçalves assinalou que este recorde de validações não poderá dissociar-se do ligeiro aumento de acidentes verificado no ano passado, face a 2023. E se as ocorrências com peões aumentaram, as colisões com carros diminuíram. Nestes casos, há sempre invasão do canal do metro por parte dos automobilistas, com as viragens à esquerda, explicou Ana Paula Gonçalves. A responsável assinalou, ainda, que todos os locais onde se verifiquem pelo menos três acidentes num período de cinco anos são alvo de uma análise particular para ver se é preciso proceder a alterações ou implementar medidas para evitar essas ocorrências.
"Train surfing" aumenta nas férias e na época balnear
Com a chegada do bom tempo, da época de praia e das férias escolares, há uma preocupação acrescida para os responsáveis da Metro do Porto – o “train surfing”, ou seja, viajar empoleirado no exterior dos veículos. Há registo de várias situações protagonizadas por grupos de jovens, seja para escapar aos fiscais porque não querem pagar bilhete, seja pelo espírito de aventura. O facto é que a façanha pode ter consequências trágicas, acarretando sempre o risco de acidentes mortais.
Como o fenómeno tende a ser mais frequente no verão, a Metro reforçará as campanhas de sensibilização e de alerta para os perigos inerentes a estes comportamentos, avançouao JN Ana Paula Gonçalves. Nesse contexto, a fiscalização também estará atenta a estas infrações e as autoridades serão alertadas sempre que for necessário.