3571 mulheres nacionais e estrangeiras deram à luz no Centro Materno Infantil do Norte em 2019. Unidade quer adicionar seis camas para grávidas.
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Ao colo do pai, que não desvia o olhar da pequena, Kataleya Salazar dorme enquanto aguarda pela consulta no Centro Materno Infantil do Norte. Nasceu na tarde do último dia de 2019. Uma semana antes, vieram ao Mundo Bernardo e Benedita Machado. Os três bebés ajudaram a unidade de saúde a despedir-se de 2019 com um número recorde: 3571 partos realizados. Pela primeira vez, uma unidade do Porto tem o registo mais elevado do país. E cada vez há mais mães estrangeiras a recorrer ao serviço.
Segundo os dados do portal do Serviço Nacional de Saúde, a par do Centro Materno Infantil do Norte (CMIN), a Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, e o Hospital de Braga, também fizeram mais de três mil partos. Registaram-se 3263 na maternidade lisboeta e 3153 em Braga.
Segundo Caldas Afonso, diretor do CMIN, a procura pela maternidade cresceu nos últimos três anos. Face a 2018, no ano passado fizeram-se mais 250 partos, obrigando a uma gestão diária das 38 camas disponíveis para as mães, bem como dos 12 postos de cuidados intensivos neonatais e dos oito dos intermédios.
Ainda assim, por falta de vagas, foram transferidas três grávidas para outros hospitais ao longo do ano. "Temos um plano para entregar e sensibilizar o Conselho de Administração [do Centro Hospitalar do Porto onde o CMIN está integrado] para a necessidade de aumentar pelo menos seis camas na área da mulher", avançou Caldas Afonso.
Dos 5371 partos feitos, 458 bebés nasceram prematuros. Foi o caso de Bernardo e Benedita Machado, que deixaram o ventre materno às 35 semanas. A mãe, Margarida Neves, foi internada dois meses antes, após ter sido detetada uma discrepância no crescimento dos gémeos. "Como a Benedita estava a crescer pouco induziram o parto", contou Margarida Neves, de 39 anos.
Três dias depois do nascimento, mãe e filho deixaram os corredores do CMIN. Benedita ficou mais uns dias internada. Agora, com um mês de vida, foi o pequeno Bernardo a regressar aos cuidados intermédios da unidade de saúde.
Desafios
"Trazer um para aqui depois de ter aos dois em casa mexe connosco. Tem sido complicado gerir tudo isto de forma a passar tempo com ele e com a irmã", disse a mãe, que esteve dois anos a tentar engravidar. "Quando soube que eram gémeos foi um pouco assustador, mas depois fiquei muito contente", recordou.
Menos sobressaltada foi a gravidez de Rita Azevedo. A filha, Kataleya Salazar, nasceu no fim do tempo de gestação, de parto natural, com quase quatro quilos e 50 centímetros. "Sempre quis ter bebé no CMIN porque é um bom sítio. A minha irmã também já tinha tido aqui e o acompanhamento foi excelente", assegurou Rita Azevedo, de 24 anos, que foi referenciada pelo centro de saúde para o CMIN.
Para a jovem, o maior desafio da maternidade é a amamentação. Já as noites são "tranquilas". "Ela sempre quis muito o peito, não pegava na chupeta nem no biberão. E sempre foi uma bebé de colo", contou Rita Azevedo, revelando que o nome da filha foi escolhido pelo pai, Beto Salazar.
"Ficou Kataleya porque sempre quisemos um nome que não fosse vulgar", disse.
Nem Margarida Neves, nem Rita Azevedo frequentaram as aulas de preparação para o parto. No entanto, a maternidade registou no ano passado mais de 900 inscrições para as 780 vagas disponíveis. O centro está a estudar um solução para incrementar o número de sessões semanais. Atualmente, são ministradas formações três vezes por semana.
"Tem sido um desafio. As turmas não podem ser muito grandes porque é um processo que tenhamos que seja o mais personalizado possível", referiu o pediatra Caldas Afonso.
No ano passado, 150 mulheres estrangeiras recorreram à maternidade para dar à luz. Desconhece-se se vivem em Portugal ou se estão a passar férias no país. "É um fenómeno relativamente recente, sendo que a comunidade estrangeira residente tem aumentado muito nos últimos anos", disse Caldas Afonso.
As mães chegam de vários países. Há mulheres do Brasil, Nepal, Norte de África e de países de Leste. "Há claramente a identificação de um local seguro para mãe e filho, num ambiente agradável e com boas condições", frisa, sublinhando a diferença "abismal" entre os nascimentos fora do Serviço Nacional de Saúde em Lisboa, onde existe um "fenómeno muito grande", e no Porto, onde há uma menor procura pelos privados.
SABER MAIS
Banco de gâmetas
Em 2019, o CMIN realizou 19 ciclos de procriação medicamente assistida com gâmetas masculinos e 31 ciclos com gâmetas femininos. De acordo com Caldas Afonso, o centro está "longe de ter o número de gâmetas necessário para a procura", estando em discussão a possibilidade de abrir um concurso internacional para a aquisição de gâmetas.
Diferenciação
Com uma maior incidência no Norte, o CMIN recebe ainda grávidas de risco de outras zonas do país. Algumas das mulheres têm patologias clínicas. Considerado um "hospital amigo dos bebés", tem uma taxa de adesão ao aleitamento materno até aos 5 meses de 97%.