Palacete Visconde de Trevões é agora um espaço dedicado à história de Matosinhos, com aposta forte nas tecnologias. Abre ao público na sexta-feira.
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Realidade virtual, tablets, quadros interativos, projeções, vídeos. Coisas impensáveis há milhares de anos, são essas as armas de que o Museu da Memória está munido para cativar o interesse dos mais novos. Indo do mais longínquo momento da presença humana em Matosinhos até à atualidade, o novo espaço abre ao público na sexta-feira com uma aposta forte em recursos tecnológicos.
"Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir", dizia José Saramago, e é com estas palavras que o visitante é recebido. Há muito almejada pela Câmara - mas atrasada quatro anos, devido a um diferendo com a empresa que iria tratar da conceção e da execução do museu -, a inauguração está marcada para esta quinta-feira e, na sexta, começam as visitas regulares.
Acolhido num edifício nobre, mandado construir no início do século XX pelo benemérito Emídio Ló Ferreira, o museu dedica um espaço a essa figura que, em 1906, recebeu do rei D. Carlos as insígnias de comendador da Ordem de Cristo.
Segundo Fernando Rocha, vice-presidente da Câmara e vereador da Cultura, "todo o conjunto de instrumentos tecnológicos, com visitas virtuais e interatividade, é uma forma de atrair o público mais jovem", a quem é feito, propositadamente, um "piscar de olhos". Ainda segundo o responsável, as visitas serão gratuitas nos primeiros meses.
As tecnologias parecem conviver bem com as peças mais antigas, como os vestígios recentemente encontrados no sítio do Fontão, em Lavra, ou a réplica da nau que, segundo se crê, está na origem da capela do Corpo Santo (século XVI), em Leça da Palmeira. E, se não fossem os quadros interativos, não seria possível ver com todo o pormenor o teto da igreja do Senhor de Matosinhos.
Há também espaço para a pintura e para o desenho, como quadros de Júlio Resende, Alberto Péssimo ou Jaime Isidoro e esquissos de Álvaro Siza e de Alcino Soutinho.
A autarquia preparou um programa especial para este fim de semana. Será possível construir uma casa castreja ou participar numa oficina de pintura. As visitas guiadas serão de terça a sexta.
Curiosidades
Um benemérito
Emídio Ló Ferreira, visconde de Trevões, fez fortuna no Brasil e aplicou-a em Matosinhos. Deu à cidade o Teatro Constantino Nery (em homenagem ao seu patrão em Manaus), foi um dos fundadores do Leixões e deu casas aos pobres.
Fachada com vidro
Construído entre 1909 e 1911-13, o palacete tinha, na origem, uma fachada envidraçada. Chegou a ser escola e albergou a Biblioteca Florbela Espanca entre 1987 e 2005.
Bancos de Álvaro Siza
Os bancos que o arquiteto Álvaro Siza desenhou para uma das suas obras mais emblemáticas, a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, estão a uso neste museu.
Chave de cofre
Sob o obelisco da praia da Memória está um cofre que contém um discurso de D. Maria II e moedas de ouro. Esta é a chave que o abre.