<p>A Direcção Clínica do Hospital da Mealhada demitiu-se em bloco com acusações de faltas de material e de manutenção de equipamentos. O serviço de urgências fechou portas. O provedor da Misericórdia diz que se tratou de "um golpe de Estado". </p>
Corpo do artigo
Luís Teixeira, director clínico demissionário, justifica a decisão radical dos médicos, anunciada anteontem à noite, com alegada "ingerência de pessoal não qualificado na área de saúde", o que "tornou insustentável a manutenção da direcção clínica e de 70% a 80% dos médicos".
O antigo responsável clínico do Hospital da Misericórdia da Mealhada diz que os planos de manutenção dos equipamentos, dos blocos operatórios e dos sistemas de monitorização do hospital não estavam alegadamente a ser cumpridos, o que, aliado a outros problemas de "extrema gravidade", colocava em risco a saúde dos doentes. Falta de materiais devido a atrasos no pagamento a fornecedores de que cortaram o abastecimento e "desvio de dinheiros que deviam ser usados na área da saúde para outro tipo de actividades" são outros problemas denunciados pelo médico.
"Nestas condições não se consegue trabalhar", afirmou o director clínico que, anteontem à noite, numa reunião com os profissionais de saúde daquele hospital, anunciou a decisão de se demitir do cargo, juntamente com os restantes elementos da sua direcção.
Uma decisão que, garante Luís Teixeira, foi acompanhada por "70% a 80% dos médicos do hospital". Razão pela qual o serviço de urgências fechou.
Teixeira critica a Provedoria da Misericórdia da Mealhada (entidade proprietária do hospital privado) por "estar a par da situação e não tomar medidas". O provedor, João Peres, responde classificando a tomada de posição dos médicos como um "golpe de Estado".
Peres lamentou que a direcção clínica não tenha, alegadamente, avisado a instituição do plano de se desobrigar das suas funções, com efeitos imediatos a partir das 0 horas de ontem, após ter terminado uma reunião de profissionais do hospital convocada para anunciar a demissão.
"Abandonaram os doentes", afirmou o provedor, acusando Luís Teixeira e os médicos que o seguiram naquela decisão de terem "violado regras deontológicas e éticas" da profissão.
Na sua opinião, os demissionários "deveriam ter prevenido de que ia acontecer isto".
"A urgência está encerrada e também o serviço de ortopedia (cuja equipa é chefiada pelo director clínico demissionário) não está a funcionar", declarou, ontem, João Peres, que prometeu a normalização dos serviços para breve e aproveitou para rebater/negar a existência de falta de material e problemas nos equipamentos. Quanto à alegada ingerência na área da saúde de pessoal não qualificado, o provedor rejeitou a acusação. "Houve sempre a tentativa dos médicos de interferirem na área administrativa e financeira", ripostou.
Entretanto, uma fonte da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC) disse ontem que a situação "está a ser acompanhada", de modo a acautelar o funcionamento dos protocolos assinados nas áreas da Medicina Física e Reabilitação, Análises Clínicas, Cuidados Continuados de Saúde e Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia.
Com um corpo clínico com cerca de 60 médicos, o Hospital Misericórdia da Mealhada opera cerca de mil doentes por ano, atende 800 a 900 doentes por mês no serviço de urgência e consulta mensalmente 400 a 500 pessoas.