Às ilhas chamam bairros, mas ilhas são elas, embora tenhamos ido ver dois exemplos de dignidade na vida pobre que sempre aquelas tão portuenses colmeias albergam.
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Pobre, mas não indigente: 250 ou mais euros podem ser pagos por um T1 cujo somatório das áreas de todas as divisões cabe dentro da sala de qualquer apartamento moderno.
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Morador há dois anos da Ilha do Galo Preto, na Rua de S. Vítor, Bruno Freitas paga por mês 250 euros. “É meio ordenado. Com água e luz vai para os 300”, diz, explicando que não há alternativas. Tem falhado o acesso a habitação camarária e naquela vizinhança está a rede familiar que, por ter uma filha, lhe facilita a vida.
São 33 as casas, duas fileiras alinhadas junto a estreito corredor. Em tarde soalheira, o aspecto chega a ser pitoresco e, ao que nos dizem, o senhorio não falta com obras: “É preciso ter capital e, com estas rendas, é claro que tem capital”.
Ali, todas as habitações têm uma pequena casa-de-banho, interior. Também do outro lado da rua, na Ilha Grande, todas as 20 casas têm wc. Aproveitamentos dos minúsculos pátios que havia em cada casa.
Aí, Laura Tavares mostra-nos o sítio onde estavam as latrinas comuns a todas as habitações. Assim era há 45 anos, quando ali nasceu. Voltou, recambiada pela vida, depois de ter tido melhores condições, em Gaia e em Gondomar.
“Já tentei com a Câmara, mas não tive sorte”, diz, explicando que o ambiente, ainda por cima, já não é o que recorda: “Antigamente, era um bairro familiar. Agora, não se pode dizer isso. Todo o cuidado é pouco”.
Por lá vive Maria Alice há 46 anos. Paga “oito contos por mês”. São 40 os euros. Em S. Vítor, onde as ilhas persistem e até são emblemáticas. No S. João, a Junta do Bonfim promovia a eleição da ilha mais bem decorada, com luzes e cascatas. Dizem-nos que até isso já é do passado, mas as placas dos prémios, junto às entradas, refulgem de orgulho.