Quase seis anos após ter sido queimada com óleo a ferver num café do Porto, Iara prepara-se para mais uma cirurgia. As viagens a Espanha para tratamento sucedem-se. Hoje, no tribunal, o dia pode ser decisivo.
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Iara Filipa, com quase 12 anos, tem fome de viver. Quer experimentar tudo e "conhecer o infinito". Como se os seis anos em que esteve impedida de fazer uma vida normal, por conta do acidente que sofreu, e em que ficou com 40% do corpo queimado, lhe tivessem roubado tempo. O processo indemnizatório caminha, hoje, para o desfecho, entrando na fase do debate instrutório, mas na vida pessoal o drama da menina está longe de ter um fim. No verão, Iara terá de ser, de novo, operada.
Cada ida da menina à Corunha é vivida num "misto de emoções". Iara sempre foi lá tratada. Na altura do acidente, nenhum hospital português estava disponível para cuidar da criança - o S. João não tinha unidade de queimados para crianças, em Lisboa não havia vagas e Coimbra estava em obras, sem capacidade para acolher Iara.
Já devia ter sido operada
Por um lado, a família sabe que da viagem até Espanha vem o prognóstico certo de mais uma operação. A 11ª. Por outro, a menina só pensa nas "saudades" que sente do seu "anjo da guarda", Juan Garcia Barreiro, que desde a primeira hora a tem tratado.
A consulta, que aconteceu na semana passada, no Hospital Santa Teresa, na Corunha, e que o JN acompanhou, serviu para o médico avaliar as retrações da pele na zona mamária, e no braço e pulso direitos da menina.
A mãe, Sara, tentava esconder a preocupação. Até porque "a Iara já devia ter sido operada em fevereiro", mas a cirurgia teve de ser adiada, porque "estava com uma anemia e baixa de peso".
De facto, a altura (1,48 metros), é o que, por agora, tem estado sob a vigilância do médico espanhol. "Estás altíssima!", observou Juan Garcia Barreiro, preocupado "se a pele, na zona mamária, tem elasticidade para assumir o crescimento".
A cirurgia prevista para o verão será para colmatar essas retrações. Todavia, será precisa outra "por volta dos 18/20 anos", disse o médico, prevendo que só a partir daí a menina/mulher possa ter uma vida "praticamente normal".
Estado deixou de comparticipar deslocações
Desde que o Estado português deixou de comparticipar as deslocações para a Corunha (Espanha), tem sido a família a arcar com todas as despejas. Só para a próxima operação serão precisos dois mil euros. Mais as despesas inerentes à deslocação da família.
Conta solidária para ajudar tratamentos
A família abriu uma conta na Caixa Geral de Depósitos, onde todos poderão contribuir com o que puderem:
0035 0310 0003 4868 200 41.