Quase a completar dois anos e meio, o menino brincava, anteontem, na rua da aldeia, em Mangualde, com dois irmãos mais velhos. Uma hora depois de deixar de ser visto, foi encontrado num poço. Acabou por morrer.
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Paulinho nasceu de parto prematuro, aos oito meses de vida, no dia 19 de Outubro de 2006. Anteontem, ainda curta a vida, morreu prematuramente afogado num poço descoberto, a menos de 300 metros de casa. Os pais estão destroçados. Clamam que foi um acidente. "Igual a outros que podem acontecer a qualquer família". Mas o facto de estarem (casal e quatro filhos) a ser acompanhados por técnicos da Segurança Social e de receberam o Rendimento Social de Inserção (RSI), fá-los temer pela custódia dos restantes três filhos.
"Se os levarem, não terei mais nenhuma razão para viver", chora compulsivamente a mãe, Maria dos Anjos Rodrigues da Costa, de 38 anos. "Não deixarei nunca que tal aconteça. Defenderei a minha família até ao último momento. Já nos basta o que estamos a sofrer", avisa o pai, Eugénio Paulo Brito da Silva, de 40 anos.
Brincava na rua, como sempre
O acidente que deixou a família arrasada, e condoída toda a aldeia de Santa Luzia, nos arredores da cidade de Mangualde, aconteceu à meia tarde de anteontem. Paulinho, como era carinhosamente chamado, brincava na rua, à porta de casa, com dois dos três irmãos mais velhos. Sempre foi assim. Desta vez correu mal.
"Quando viram chegar das compras uma nossa vizinha, uma menina de 12 anos com quem gostam de andar, saíram para a rua. Algum tempo depois, cerca das 17.30 horas, quando os chamei para lanchar, o mais pequenino não respondeu", relata a mãe.
Batidos todos os recantos da aldeia, por familiares e vizinhos, a criança acabaria por ser encontrada pela própria mãe e pelo irmão mais velho. "Tinha um pezinho à tona da água. Ainda tentámos puxá-lo, com a ajuda de um cano, mas tiveram de ser outras pessoas a fazê-lo. Estava quase morto", acrescenta a progenitora.
"Quando chegámos ao local, a vítima estava fora do poço e deitada na relva do lameiro. Após uma primeira abordagem, para avaliar os sinais vitais, procedemos a manobras de suporte básico de vida. A reanimação prosseguiu durante muito mais tempo, no centro de saúde de Mangualde, já com a equipa da Viatura Médica de Emergência (VMER). Contudo, apesar dos esforços, a criança não resistiu", relata Carlos Carvalho, comandante dos Bombeiros Voluntários de Mangualde.
Eugénio Silva, de Lisboa, e Maria dos Anjos, de Nelas, moram em Santa Luzia há cerca de seis anos. Pagam 100 euros mensais pela casa que partilham com os filhos, Fernando Vítor, de 12 anos, Ilídio Miguel, de sete, e Rute, de quatro. Até anteontem, o agregado incluía o Paulinho, que hoje vai a enterrar.
Problemas de álcool obrigaram o casal, há cerca de um ano, a lutar pela guarda dos filhos. "Mas agora estava tudo bem. As técnicas da Segurança Social que nos visitavam todos os dias, passaram a fazê-lo apenas uma vez por semana. Até nos ajudam a fazer as compras", diz Maria dos Anjos. A família vive com os 536 euros que recebe do RSI, é acompanhada por uma equipa multidisciplinar e espera que o acidente que vitimou o filho não interfira com a guarda dos outros. "Não conheço o caso. Mas em teoria, essa será sempre, se for caso disso, uma decisão dos tribunais que avaliarão se houve dolo na morte do menor ou se foi acidente", diz Manuel João, director da Segurança Social de Viseu.