Associação de Sociólogos reconhece, em estudo, potencialidade do município, mas alerta que precariedade deixa comunidade "duplamente fragilizada".
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Rita Rana, de 26 anos, e o marido, Rakesh Das, 28, chegaram a Viana do Castelo em dezembro de 2020. O emprego numa fábrica do setor da energia eólica foi determinante para a escolha daquela cidade pelo casal nepalês. Estudaram na Dinamarca, mas tiveram de sair do país em plena pandemia quando os vistos caducaram, e tentaram Lisboa em maio do ano passado, mas não tiveram sorte de encontrar trabalho.
Quando foram chamados pela empresa de Viana, não pensaram duas vezes. Hoje trabalham ambos na mesma fábrica, em turnos diferentes, mas sem vínculo estável. Pertencem à comunidade de 2480 migrantes de 80 nacionalidades residente em Viana, que, segundo um estudo sobre migrações e integração naquele município, elaborado para a Câmara pela Associação de Sociólogos do Alto Minho (ASSOCIAM), não pára de crescer devido, entre outros fatores, a uma onda de migrantes laborais que começou há dois anos. Chega, em média, meio milhar por ano: 1480 (2018), 1992 (2019) e 2480 (2020).
"Viana tem potencialidades, mas também limites na oferta de trabalho", alerta o sociólogo António Cardoso, investigador da ASSOCIAM, que trabalhou no estudo. Indica que "a precariedade laboral" deixa a comunidade migrante "duplamente fragilizada", se associada a outros fatores, como a língua, o isolamento e o acesso à habitação.
Futuro tranquilo
Rita e Rakesh são exemplo disso. Encantaram-se com a cidade que dizem assemelhar-se à sua terra natal e anseiam por um futuro "tranquilo e estável". Mas para já sonham com a possibilidade de abrir um restaurante nepalês. "Ainda falta muito", diz Rakesh, lamentando a falta de estabilidade laboral, a demora na autorização de residência e "alguma discriminação" sentida pelo casal no atendimento num serviço público de saúde e quando quiseram alugar casa. Rita confessa que a "maior frustração" é não saber falar português, mas o casal já está inscrito nas aulas proporcionadas pela Câmara.
Rakesh destaca "o bom acolhimento" das gentes de Viana. "Temos muitos amigos, a maioria portugueses de cá", afirma, nomeando os "guardiões" Margarida (técnica municipal coordenadora do estudo) e Manuel (amigo) que os apoia em tudo e até levou a provar "arroz de marisco e francesinha".
Laura Toro, de 34 anos, e José Molero, 38, pais de Dominic de um ano, são uma família venezuelana que toca e canta na rua para sobreviver. Vindos do Equador para umas férias em Paredes de Coura, ficaram forçados pela pandemia. Laura vinha grávida e teve Dominic no hospital de Viana, em julho de 2020. Acabaram por se fixar na cidade, onde dizem ter chegado pela "mão de Deus". Sonham com um futuro a três na música. Para já, contentam-se a tocar na rua enquanto o bom tempo permitir. As fábricas são "o plano B" para sobreviver ao inverno.