Há mais de trinta anos a produzir pão de Ul, Lurdes Resende ignorou, quando nova, o desejo da sua mãe (de prosseguir os estudos), cuja vida no mesmo ofício já lhe tinha mostrado o quanto era duro.
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Hoje com 59 anos, é uma das cerca de 30 padeiras de Ul que se dedicam à produção deste pão artesanal, com respeito pelo método tradicional e formato micro-empresa familiar. Escoam sobretudo para os restaurantes, mercearias, mercados e até hotéis das redondezas.
Hoje e amanhã, Lurdes será uma das atrações do Mercado à Moda Antiga de Oliveira de Azeméis. A Associação de Produtores de Pão de Ul (APPUL), a que preside, estará presnte a produzir a iguaria em dois fornos.
Uma amostra de um quotidiano árduo. O dia de trabalho de Lurdes Resende começa às 2 da manhã e só termina dez horas depois. É que a confeção deste pão, o de Ul, "é um processo moroso e mais cansativo", explica.
Ao meio-dia e meia tem que ter o pão todo entregue aos clientes, que no seu caso não são poucos. Estão, sobretudo, em S. João da Madeira, mas também em Oliveira de Azeméis, onde ainda possui uma banca no mercado municipal. Faz ainda a feira de Vale de Cambra, duas vezes por mês.
Centenária, a sua padaria começou com a avó, passou pela mãe e foi assumida por si, depois de sempre ter ajudado a família na tarefa e não se ter dado bem no setor do calçado, na única vez que tentou mudar de atividade.
Hoje, a maioria das padeiras de Ul tem idade superior a 50 anos. "Os nossos filhos foram todos para doutores, agora vamos ver se não terão que regressar à produção do pão", ironiza Lurdes.
Quando a APPUL surgiu, havia 25 padeiras associadas, agora só há 16. A associação foi criada, por vontade da autarquia, para ajudar a preservar a memória, os costumes e os métodos tradicionais da panificação associados ao pão de Ul.