Estratégia do município passa por adquirir mais complexos e reabilitá-los. Em Cortes, Ramalde, nascerá novo edifício. Plano que apoia reabilitação só tem cinco candidaturas e 20 pedidos de informação.
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Está feito o diagnóstico: contam-se 957 ilhas no Porto e metade está condenada ao desaparecimento. As más condições em que foram construídos estes conjuntos habitacionais e o seu elevado estado de degradação ditam a inviabilidade de recuperar grande parte deles, mas o objetivo é preservar e adaptar os restantes. Só que, por parte dos proprietários, apenas 20 pediram informações ao município quanto à viabilidade de submeterem uma candidatura ao 1.º Direito - com verbas do Plano de Recuperação e Resiliência -, permitindo-lhes aceder a financiamento para reabilitar estas casas. Há cinco candidaturas entregues, no valor total de 2,9 milhões de euros. Duas estão aprovadas.
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Por isso mesmo, a Câmara do Porto prepara-se para comprar mais ilhas. Além da aquisição de seis na Lomba, tem em vista uma em Miragaia e outra nas Antas. Grande parte das restantes, todas privadas, está devoluta e abandonada ou acolhe um único habitante, cuja permanência não permite a venda ou renovação total das habitações.
"Boom" do turismo
É o caso da Ilha d"Ouro, na Rua de S. Vítor, que hoje funciona como alojamento local (AL). Parte da fachada permanece entaipada pela recusa de um morador em entregar a casa. O nome original é Ilha do Padeiro, mas depois da transformação a designação mudou, diz José Castelo, 69 anos, antigo morador de uma das mais conhecidas de S. Vítor pela famosa cascata de São João: a "do Doutor".
"O "boom" do turismo espoletou o fenómeno [do AL]. Aqui na rua, há uns anos, todos os dias vinham agentes imobiliários perguntar a toda a gente se as casas estavam à venda. Agora acalmou. Está quase tudo vendido", nota José, lamentando a "perda da comunidade", ainda que, das 33 ilhas existentes naquela artéria, só duas tenham sido convertidas em AL.
"Infelizmente para nós, que gostávamos da Rua de S. Vítor, só duas, três, quatro, meia dúzia de ilhas é que estarão habitadas. Há uma, conhecida pela ilha grande, que é a maior daqui. Tem não sei quantas casas de um lado e do outro, mas só três casas é que estarão ocupadas", lamenta José Castelo.
As operações de transformação de ilhas em AL também não interessam ao município. O plano para erradicar as ilhas da cidade, já antigo, eliminou alguns destes complexos, incluindo municipais, mas foi abandonado no início do século XXI e hoje a estratégia é diferente.
Territórios de pobreza
O vereador do Urbanismo na Câmara do Porto, Pedro Baganha, reconhece o "mosaico social" existente nas ilhas, "que caracteriza a cidade". Ainda assim, recusa "glorificar um suposto passado maravilhoso".
Para Maria de Lurdes, irmã de José Castelo, a pequena casa onde vive "é histórica" e é lá que quer morrer. Não terá mais de 20 metros quadrados, mas foi ali que nasceram os cinco irmãos e quatro dos seus filhos. "No meu tempo de criança, os vizinhos - já muitos partiram - eram uma família. Éramos mesmo uma família. Agora damo-nos todos bem, mas cada qual na sua casa", admite.
"[As ilhas] não eram territórios idílicos, onde havia unidades de vizinhança, todos estavam muito bem e eram muito felizes. Eram territórios de exclusão e de pobreza. Se recuperadas de forma inteligente, podem constituir dispositivos urbanos que são interessantes para a manutenção das populações a viverem no sítio onde sempre viveram", observa Baganha, acrescentando, "por outro lado, que das tais 957 ilhas, pelo menos metade - se não mais - não têm qualquer viabilidade. O seu futuro é deixarem de existir a prazo".
De acordo com o vereador, o município está "a tentar ter uma abordagem mais estratégica, percebendo quais são as ilhas interessantes para manter a população e quais as que não têm interesse nesse sentido". Das três ilhas municipais, "não fazia sentido nenhum, urbanístico ou económico" manter a Ilha de Cortes, em Ramalde, "só por manter". Até porque, nota Pedro Baganha, "esse terreno tem uma capacidade construtiva tal que essas casas primitivas podem ser substituídas por fogos modernos, atualizados, com todas as condições de conforto".
Detalhes
Seis ilhas na Lomba
De acordo com a Câmara do Porto, o município "está a concentrar os esforços de reabilitação de seis ilhas na cidade que representam quase 50 fogos na Lomba". O estudo prévio para a requalificação está pronto, "estimando-se a finalização do anteprojeto" durante este mês.
Até 2026
Prevê-se que a reabilitação na Lomba possa estar concluída em 2026. O objetivo é que os moradores, depois das obras, regressem às suas casas, garantindo-se o seu realojamento durante os trabalhos.
Nas Fontainhas
A Câmara do Porto também já admitiu a intenção de comprar a Ilha dos Moinhos, nas Fontainhas, depois de as casas terem sido atingidas por uma enxurrada a 7 de janeiro.