Inquilinos construíram quartos de banho no interior das casas para melhorar condições.
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Da metálica porta castanha do número 68 da Rua de S. Vítor, no Porto, um esguio corredor abre caminho a uma fileira de dezenas de habitações. A maioria é demasiado pequena para acolher mais de duas pessoas, mas já lá viveram famílias inteiras de operários. As velhas portadas de madeira do anexo à entrada avivam a dura memória das cinco casas de banho que serviam toda a ilha. O saneamento parava ali. É a Ilha do Toninho, diz Teresa Pereira, de 73 anos. Há dois anos, todos os inquilinos compraram as habitações. Alteadas há décadas - com autorização secreta do senhorio -, e com obras suportadas pelos moradores, as condições são muito diferentes das de há 50 anos.
Esta é só uma das 33 ilhas existentes na rua. Outras não tiveram a mesma sorte e são lar da incerteza. Perante a falta de condições, são os inquilinos que assumem o custo pontual de obras urgentes, sob pena de a renda subir exponencialmente. Uns tentam sair, à procura de uma habitação melhor, mas, sem condições financeiras para responder ao mercado, há quem não tenha alternativa.
Renda de 300 euros
Há, por outro lado, quem resista até ao fim da vida naquelas casas. E à medida que ficam vagas, há senhorios que fazem obras e adaptam as habitações às necessidades de hoje. "Não podem arrendar uma casa que não tem casa de banho", atira Maria de Lurdes, da Ilha do Doutor. Mas o valor das rendas sobe para os 350 ou 400 euros. Por isso, quem não sai prefere fazer melhorias a expensas próprias pela impossibilidade de suportar esses valores. Muitos nem incomodam os proprietários por problemas nas portas ou nos telhados.
Quando Teresa Pereira chegou, há 49 anos, à Ilha do Toninho, aquela que hoje é a sua sala "eram dois quartos". "Eu e o meu marido, com aquilo que ganhávamos, tivemos de construir tudo: a cozinha, a casa de banho...", diz a moradora, a primeira do complexo a fazer ligação direta de casa à rede pública de saneamento. Se não fossem esses trabalhos, provavelmente aquela já não seria a sua casa, que conta hoje com dois andares.
População
10 mil pessoas
O último registo feito nas ilhas do Porto, em 2015, contou dez mil pessoas a viverem nestes complexos, 5% da população portuense. Atualmente, não há dados oficiais.