Mineiros de Jales indemnizados ao fim de 27 anos

Carlos Mendes, antigo encarregado nas minas de Jales e sindicalista, era o rosto de uma "meia vitória". "Fico feliz com este desfecho, mas recebemos apenas 24% daquilo que era devido. Estivemos estes anos todos à espera que o administrador judicial soltasse o dinheiro. São cerca de 200 mil euros para distribuir pelos trabalhadores", afirmou. Mas o antigo funcionário, que trabalhou 22 anos nas minas, assumiu como pessoal a missão de "entregar todas as indemnizações até ao último tostão, esteja onde estiver o trabalhador". "Muitos já morreram, mas temos aqui os familiares", disse. Foi o caso de Mercedes Mourão, 77 anos, mulher de um mineiro já falecido.

"Tenho pena por ele não estar aqui para receber o cheque, porque acreditava que este dia ia chegar, eu já não esperava", contou a mulher.

Vai dar jeito

Artur Dias Castela, 76 anos, foi um dos mineiros que esteve, ontem, na Casa do Povo de Campo de Jales. "Já não acreditava que, ao fim de tanto tempo, o dinheiro chegasse. Não é tudo a que tinha direito, mas vai dar jeito", assegurou. Abel Gregório, 82 anos, partilha a mesma opinião. "Nunca acreditei que isto ia dar em alguma coisa. Entrei para as minas em 1970 e isto é só uma pequena parte daquilo a que tínhamos direito, mas é melhor que nada. É um capítulo que se fecha", sublinha.

Os trabalhadores recorreram aos tribunais em 1994 para receber os salários em atraso e a indemnização devida pela perda dos postos de trabalho. "Na primeira instância, o juiz decidiu que o primeiro credor seria o Estado, mas recorremos para a Relação que nos deu razão", explicou Carlos Mendes.

O regresso dos anos de ouro continua a ser uma esperança da população. Em fevereiro, o secretário de Estado da Energia anunciou, numa visita ao concelho, que vai lançar, até ao verão, um concurso para a concessão da prospeção e exploração de ouro em Jales.