<p>O Ministério Público já abriu um inquérito às causas da queda do viaduto no IP4, em Amarante, de que resultou um morto e oito feridos. Entretanto, foram suspensas as betonagens em pontes na Auto-Estrada do Marão e o trânsito vai continuar cortado.</p>
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A derrocada do cimbre (estrutura provisória) do viaduto, ocorrida anteontem, quando se estava a proceder à betonagem, poderá configurar o crime de infracção das regras de construção, punível com pena até oito anos de prisão.
O acidente provocou a morte de um homem, de 43 anos, residente em Matosinhos, que seguia de automóvel e foi apanhado pela derrocada, e causou ferimentos ligeiros em oito operários. Não se confirmaram as suspeitas de que dois trabalhadores estivessem nos destroço. O corpo da vítima mortal foi resgatado às 4.30 horas pelos Voluntários de Amarante.
O consórcio que está a construir a Auto-Estrada do Marão (composto pela Somague e pela MSF) anunciou, ontem, que já havia iniciado as diligências tendo em vista o apuramento das causas do acidente. Também o ministro das Obras Públicas confirmou a abertura de um inquérito.
Entretanto, a Autoridade para as Condições de Trabalho suspendeu todas as betonagens em tabuleiros ou viadutos na Auto-Estrada do Marão até que sejam apresentadas as conclusões da averiguação. "É com alguma perplexidade que vejo uma betonagem em estrada aberta ao trânsito, mas nenhum de nós, na ACT, é perito nessa matéria. O Ministério Público saberá orientar o processo", afirmou António Neves Ferreira, da delegação de Penafiel.
"Fase muito delicada"
Para o presidente do Colégio de Engenharia Civil da Ordem dos Engenheiros, Hipólito Sousa, a betonagem "é a fase mais delicada". "Para fazer um viaduto é necessário ter uma estrutura provisória. E monta-se o cimbre, que é uma espécie de ponte, que só está lá enquanto o betão é colocado. É uma fase delicada, pois o betão é um material muito pesado e há muitos homens e máquinas em cima do tabuleiro. É uma fase com muito potencial de risco", afirmou, ao JN, Hipólito Sousa.
Segundo o especialista, uma das causas mais frequentes destes acidentes é a falha dos apoios do cimbre no solo. "O que, no campo das hipóteses, pode ter sido provocado por terrenos com muita água", acrescentou.
Sobre o facto de a betonagem ter ocorrido com via aberta, Hipólito Sousa considerou-a como uma operação "não aconselhável", mas referindo ser "complicado cortar vias com muito tráfego.
A hipótese de cortar uma das faixas do IP4 para betonar metade do viaduto de cada vez foi descartada. "Normalmente isso está em caderno de encargos quando a obra tem faixas separadas, como é o caso de uma auto-estrada. Ali a via é estreita e, provavelmente, os detritos atingiriam a outra faixa", explicou o especialista.
A fiscalização tem um papel importante mas, segundo Hipólito Sousa, "não pode assumir a responsabilidade total ". "A fiscalização é permanente e a execução dos trabalhos tem de ser precedida de uma autorização. É mais um controle suplementar", concluiu.