<p>Uns 40 euros para dar de comer a cada cabra, outro tanto por ovelha, cem por bovino. Porque o lume levou 80% do pasto e o que sobra só dá até ao fim do mês. No Soajo. O ministro da Agricultura foi lá ontem, numa corrida, anunciar apoios, iguais para todo o país ardido.</p>
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Podia ter ido com mais vagar. Podia ter descido à povoação, a uma delas, à que ficou cercada de chamas, há 15 dias, ou à outra, que dá nome à serra. "Para ver o tanto que temos queimado". Diz Maria Costa. Mas o ministro António Serrano ia sem esse vagar. Começou a ver a "terra queimada" à porta do Parque Nacional da Peneda-Gerês, no Mezio, seguiu de carro até quase ao cimo da serra, conversou com António Cerqueira e anunciou medidas. Em 45 minutos.
Valeu estar ali António, que foi quem melhor explicou o inferno que aconteceu - acontece - ali. O inferno é "o gado encurralado no único sítio que não ardeu", um pasto monte acima, o que sobra para perto de 1800 animais. "Venha lá abaixo explicar-me". António Serrano agarrou na mão de António Cerqueira, desceram uns metros pelo caminho negro e o ministro esboroou a valeta. Para ver, com as próprias mãos, que aquela terra de luto só há-de voltar a dar fruto dentro de "dois ou três anos".
Antes de anunciar ao que ia, o ministro tratou de sossegar as gentes do Soajo: vai pôr os directores regionais de Agricultura em contacto, a ver se do Alentejo pode vir pasto, antes de o Minho ir procurar a Espanha. E depois contou o que assinou anteontem. Até virem os apoios anuais, o Ministério vai dar, de verbas inteiramente nacionais, 40 euros por cada efectivo ovino e caprino e cem por cada bovino, para "garantir o fornecimento de alimentação animal". Para todos os territórios varridos pelas chamas.
Ao todo, são 156 freguesias de seis distritos e um número desconhecido de cabeças de gado, portanto uma quantidade igualmente desconhecida de dinheiro. Os agricultores podem candidatar-se até 30 de Setembro. Seguir-se-ão apoios para estabilização de solos e linhas de água e recuperação do potencial produtivo florestal e agrícola. Mas só após o relatório da autoridade florestal, porque "a época dos incêndios não terminou".
A ajuda ontem quantificada foi pensada para "dar resposta àquilo que é dificuldade agora". Ou seja, é dada uma vez. "Entretanto, vem a época das chuvas". Aqui ou noutras regiões. Balanços? "O momento certo não é este", garante o ministro da Agricultura. Certa é apenas a necessidade de mais organização e planeamento. E de cumprir com o prometido. "Há quatro anos também foi oferecida ajuda e não veio ajuda nenhuma", lembra António Cerqueira. E António Alves, da Junta do Soajo. E Francisco Araújo, da Câmara dos Arcos de Valdevez.