<p>Dois homens morreram intoxicados, ontem de manhã, durante trabalhos de tratamento de um tonel de vinho, na Quinta da Portela, São Miguel de Lobrigos, em Santa Marta de Penaguião. Residiam em Oliveira, Mesão Frio, aldeia que ficou em choque.</p>
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Anastácio Santos, de 53 anos, e Paulo Jorge Gouveia, 44, tinham ido desempenhar uma tarefa que é conhecida na região do Douro como “carpinar”. Consiste na introdução de desperdícios de linho entre as aduelas (cada uma das partes de madeira que compõe uma pipa). É uma técnica que permite reparar fugas.
O acesso ao tonel é feito através de uma pequena portinhola, onde mal cabe um corpo. Uma vez no interior, os dois homens ter-se-ão sentido mal devido à inalação de gases. Os Bombeiros Voluntários de Santa Marta de Penaguião foram alertados pouco depois das 10 horas da manhã. Só que “apesar das manobras de reanimação efectuadas, o óbito dos dois for declarado no local pela equipa médica”, adiantou, ao JN, o comandante Alfredo Borges, que levou para o local duas ambulâncias e quatro homens.
A produção e/ou introdução de gases no interior de pipas ou cubas utilizadas para o vinho é um processo normal, seja durante a fermentação do mosto ou na preparação do vasilhame para o receber. Neste caso, os dois trabalhadores, que segundo vizinhos, “tinham experiência nesta área”, não terão tido as cautelas necessárias e acabaram por ser surpreendidos por gases que mal se detectam e cuja inalação, tal como já aconteceu em muitos outros casos, acaba por ser fatal.
Enquanto na Quinta da Portela não foi possível obter informações sobre as condições em que ocorreu o acidente, em Oliveira, Mesão Frio, a morte dos dois homens era o principal tema de conversa. Familiares e amigos também tratavam de dar apoio às viúvas neste momento difícil.
Paulo Jorge e Anastácio trabalhavam ambos para uma tanoaria da freguesia – embora o mais velho só esporadicamente – pelo que se estranha como se deixaram surpreender. “Não sei como lhes foi acontecer uma coisa destas”, lamentava-se Francisco Barreiros, primo da esposa do mais velho. “Ele foi meu colega em trabalhos agrícolas. Conhecia o Anastácio muito bem. Era bom trabalhador e óptimo companheiro. É uma pena ter morrido assim”, lastimava Belarmino Guedes. Ambos se recordam de um outro acidente ocorrido naquela localidade, curiosamente envolvendo um tio de Paulo Jorge. “Um indivíduo entrou com um aparelho eléctrico para dentro de um tonel e acabou por morrer electrocutado”, recordou Francisco.
Na memória dos durienses ainda está um acidente com contornos semelhantes, ocorrido há seis anos, nas instalações da Cooperativa Subvidouro, em Folgosa do Douro, Armamar. Três pessoas morreram intoxicadas por Dióxido de Carbono dentro de um silo onde era depositado o bagaço.