A Galp anunciou o fim da refinação em Matosinhos. A presidente da Câmara exige respostas e a Oposição teme especulação.
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Sem se saber o plano que a Galp vai adotar após ter decidido terminar com as operações de refinação na Petrogal, em Leça da Palmeira, Matosinhos, e concentrá-las em Sines a partir do próximo ano, são muitas as dúvidas que se levantam no concelho. Em causa ficam cerca de 400 postos de trabalho diretos e mais de 600 indiretos, e o futuro dos terrenos. A empresa, que tem uma participação estatal, justifica a decisão pelas "alterações estruturais dos padrões de consumo de produtos petrolíferos motivados pelo contexto regulatório" devido à covid-19 e pelo "contexto favorável à transição energética".
A presidente da Câmara, Luísa Salgueiro, já garantiu que os terrenos da refinaria estão classificados no Plano Diretor Municipal (PDM) para uso industrial e não prevê a sua alteração, apesar de considerar que a descontaminação das parcelas poderia ser vantajosa. A autarca exige saber, ainda assim, "o que pretende a Galp fazer naquela zona" e avisa que não aceitará novas utilizações das atuais instalações da refinaria que constituam impactos ambientais negativos para a comunidade.
A oposição municipal vê esta decisão da empresa de forma apreensiva, receando o surgimento de "processos especulativos" fruto dos "apetites imobiliários" que sempre existiram para aquela zona. Aliás, não é a primeira vez que surge o "fantasma" do encerramento da Petrogal e de uma eventual utilização dos terrenos para exploração imobiliária.
O independente Narciso Miranda aconselha mesmo a "definir regras rigorosas para travar qualquer especulação a longo e médio prazo", salientando o "papel determinante" da Câmara de Matosinhos para que o concelho não se transforme "num centro logístico". Isto porque, a "tendência" revela que o concelho tem perdido cada vez mais "instrumentos ao nível da produção da riqueza", como é o caso dos despedimentos na Efacec, no polo de Matosinhos, explica o ex-presidente da Autarquia.
Monoboia desativada
Também António Parada questiona o que leva a Galp a tomar esta medida: "Será a descarbonização? Ou a potencialidade daquele terreno?". O vereador afirma ter começado a recear o futuro da Petrogal no início do mês, com a desativação da monoboia ao largo de Matosinhos, que permitia aos navios de grande envergadura fazerem descargas de crude para abastecer a refinaria ao longo do ano, mesmo em condições de mar adversas. A empresa garantiu que a suspensão era temporária.
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O vereador José Pedro Rodrigues garante que a CDU "sabe bem dos apetites imobiliários que durante décadas ansiaram pelo fim da refinaria em Leça". O autarca que tem o pelouro da Proteção Civil diz que nunca apoiará "nenhuma alteração do uso dos terrenos que permita outra coisa que não atividade económica".
A par da localização dos terrenos, António Parada também coloca em cima da mesa dúvidas no que toca ao abastecimento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, na Maia. Atualmente, a Petrogal consegue abastecer diretamente os aviões que param no "Sá Carneiro" através de um "pipeline".
Com o encerramento das operações de refinação, António Parada teme que o processo passe a ser feito com autotanques, receando que esta solução "seja mais poluente ainda" do que a atividade atual da refinaria.
Por sua vez, José Pedro Rodrigues realça a "preocupação" que tem vindo a ser demonstrada pelo partido nos últimos meses, a par do anúncio da reestruturação da empresa e do "abrandamento de produção". "Esta decisão, profundamente negativa para Matosinhos, veio confirmar as piores expectativas.", considera.
O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente (SITE) do Norte caracteriza o anúncio do encerramento da refinação na Petrogal como uma "notícia catastrófica", comparando-a a uma "terapia de choque".
Saber mais
50 anos
A refinaria de Leça da Palmeira assinalou meio século de existência este ano.
110 mil barris por dia
Matosinhos tem capacidade para refinar cerca de 110 mil barris por dia.
Reunião
A CDU vai pedir a presença da Administração da Galp na próxima reunião de Câmara para prestar esclarecimentos.
Carta ao ministro
Luísa Salgueiro escreveu ao ministro do Ambiente a pedir esclarecimentos sobre eventuais compensações pela desativação da Petrogal.