Vários estabelecimentos de comércio tradicional da Baixa do Porto não resistiram e outros estão a funcionar em meio horário. Pandemia agudizou a crise. Associação pede mais apoios.
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Dois meses depois de o comércio reabrir portas, após um encerramento forçado devido à pandemia do novo coronavírus, os lojistas da Baixa do Porto vivem dias sombrios. Muitos dos estabelecimentos não resistiram aos prejuízos gerados pelo tempo em que estiveram parados. Outros reabriram, mas já fecharam devido à falta de clientes. Na Rua de Santa Catarina, coração do comércio da cidade, as muitas portas fechadas são o reflexo desta realidade. A Associação dos Comerciantes do Porto pede mais apoios para o setor.
"Muitas destas lojas já não se encontravam financeiramente bem porque já antes da covid existiam grandes dificuldades no tecido comercial portuense, nas lojas de venda de rua. O que acontece é que, passadas estas semanas de reabertura, a situação em muitos casos é grave, pois estão a perder dinheiro: a procura é baixa e os ganhos não dão nem para as despesas correntes de luz e água", explica Joel Azevedo, presidente da Associação dos Comerciantes.
Em Santa Catarina, são muitas as lojas fechadas com portas e montras entaipadas. Muitas delas com placas anunciando obras. Outras disponíveis para arrendamento. O mesmo se passa em Cedofeita, outra das artérias de comércio tradicional por excelência. Resistem as grandes cadeias de pronto a vestir e as lojas de conveniência.
"Vende-se pouco"
"Isto está mesmo muito mau! Começa a haver mais gente a circular pelas ruas, mas mesmo assim vende-se pouco. Há lojas que estão abertas mas em meio horário, outras com redução de funcionários e em lay-off", diz Joana Dias, empregada de balcão numa loja de chocolates nacionais.
Montras grafitadas, vidros partidos, lixo atrás das grades, correspondência por abrir sob a porta de vidro. A venezuelana Erika Mieles é o exemplo da situação de muitos comerciantes, endividados e falidos. "Tinha uma agência de viagens, que tive de encerrar. Foram quatro meses sem rendimento. Tínhamos também um hostel. Ficamos sem nada", conta, confidenciando que pretende regressar ao seu país. "Pelo menos lá não tenho de pagar renda para ter um teto onde dormir", refere.
Joel Azevedo ainda não tem números referentes às lojas que fecharam e aos associados que perdeu. Muitos optaram pelo encerramento porque não tinham dinheiro para investir em normas de segurança (gel para as mãos, máscaras e desinfeção). "Devia haver uma contrapartida por parte do Estado. Apoios diretos e não de financiamento. Converter empréstimos em fundos perdidos, desde que assegurados os postos de trabalho", defende o presidente da Associação.