Em português ou em estrangeiro, sobretudo em inglês, as vozes dos músicos regressaram às ruas do Porto. Da Baixa ao Centro Histórico, passando por zonas como Cedofeita, a cidade voltou a ganhar banda sonora.
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Após o período de confinamento determinado pela pandemia da covid-19, o recomeço faz-se agora a um ritmo lento e ainda com as ruas quase despidas do rebuliço do turismo, que nos últimos anos encheu todos os recantos da Invicta. Mas, as saudades já apertavam e, por isso, os artistas decidiram voltar.
Hoje, mesmo que o cenário em nada se possa comparar ao verão dos anos anteriores, permanece a vontade de cantar. E os sorrisos de quem faz questão de parar para os escutar são, a par dos contributos monetários, o maior incentivo para que ali continuem. Assim se faz da rua, todos os dias, o maior palco. Porque a paixão pela música, essa, não há vírus que mate.
Pedro Abner: "Há mais músicos e mais pessoas"
Há oito meses, quando Pedro Abner chegou a Portugal, estava longe de imaginar o período difícil que iria surgir pouco tempo depois. Aos 24 anos, o jovem natural do Rio de Janeiro, no Brasil, estava a trabalhar num hotel do Porto e conciliava o trabalho com as atuações na rua. "Depois, o hotel fechou e fomos todos para casa", recorda, sublinhando que no início deste ano estava a dar os primeiros passos a cantar na rua e, dois meses depois, viu o "palco" ficar praticamente deserto.
Agora, é com um sorriso que agradece os acenos e os contributos dos transeuntes. "Ainda não é como antes [do confinamento], mas já está bem melhor. Já há mais músicos e mais pessoas nas ruas", revela o brasileiro, que divide as atuações entre a Rua de Santa Catarina, a Ribeira e a praia de Matosinhos.
Tiago Barbosa: A ribeira está "um sítio mais calmo"
Numa altura em que ainda são poucos os turistas que passeiam pela Invicta, a Rua de Santa Catarina continua a ser uma das artérias da cidade mais procuradas e, por isso mesmo, é habitual ver por ali vários músicos (entre outros artistas), a tentar cativar quem passa. Mas nem isso faz com que Tiago Barbosa, 30 anos, altere os planos. Natural da Póvoa de Lanhoso, continua a preferir atuar na Ribeira, com o rio Douro ali ao lado, mesmo sendo agora "um sítio mais calmo".
"Já se nota que há alguns turistas e nos últimos dias tem corrido melhor, mas ainda não podemos dizer que a situação está normalizada", partilha Tiago, acrescentando que, embora as pessoas "estejam a trabalhar durante a tarde, à noite já há algumas que saem para ir beber um copo". Mesmo perante uma plateia mais reduzida, o empenho e a paixão permanecem. E em plena Ribeira do Porto, os acordes das músicas de artistas como Rui Veloso não deixam os visitantes indiferentes.
André Carneiro: "Havia mesmo pouca gente"
Aos 27 anos, André Carneiro, que também costuma atuar em frente ao rio Douro, confessa, com orgulho, que nunca teve outro ofício. Contudo, agora é com incerteza que perspetiva o futuro. "Em termos de pessoas e de dinheiro, ainda está mau", partilha o músico, que escolheu voltar a cantar, primeiro, na Rua de Santa Catarina, local onde se estreou há oito anos.
"No início, havia mesmo pouca gente na rua. Agora, já há mais portugueses, mas os turistas ainda são muito poucos", comenta André, que por enquanto não se atreve a fazer planos a longo prazo. "Com o passar do tempo, vamos vendo como é que as coisas correm", conclui.
Patrícia Pereira: "Já tinha saudades"
É de sorriso aberto que Patrícia Pereira cumprimenta quem passa na Rua de Cedofeita, onde o som da concertina em madeira anima peões e comerciantes. Se antes do confinamento Patrícia conciliava as atuações na rua com alguns trabalhos em televisão e parcerias com músicos e bailarinos, hoje sobra-lhe tempo. "Antigamente, a rua era um dos focos do meu trabalho. Agora só tenho este e, pelo que estou a ver, parece-me que vai ser assim até ao final do ano, porque ainda está tudo parado", observa.
Mesmo continuando a tocar cerca de hora e meia em cada sítio - Cedofeita, Santa Catarina e Rua das Flores -, em termos monetários Patrícia garante que "não se faz o que se fazia antes". Mas nem por isso a motivação baixou. "Já tinha saudades de tocar na rua", explica.
Filme mostra a vida de seis artistas de rua
A vida dos músicos que atuam nas ruas do Porto é o tema da longa-metragem "Por detrás da moeda", da autoria de Luís Moya. Centrado especificamente na vida de seis músicos de rua, o documentário, que é o resultado de cinco anos de trabalho e surgiu da curiosidade de Luís Moya num almoço em plena Avenida dos Aliados, dá a conhecer ao público as rotinas e as motivações de cada um dos artistas.