<p>Se o som de um bombo é suficiente para fazer a festa dentro de uma casa, imagine-se o que serão 14 a tocar ao mesmo tempo. Em casa de Silvino Santos, antigo presidente da Junta de Freguesia de Agualonga, em Paredes de Coura, por vezes, o ribombar chega a ser ensurdecedor , quando ali se junta o grupo que o anfitrião lidera, arrastando com ele irmãos, filhos, sobrinhos, primos, netos e um genro. Ao todo são 14 e todos partilham da mesma paixão, que, pelo que conta o ex-autarca, já vem de outras gerações da linhagem Santos.</p>
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"Já o meu pai me dizia, quando comecei a tocar aos 14 anos, que o bisavô dele tocava bombo. Por isso já virá até muito mais de trás", conta Silvino, um homem que durante 25 anos foi autarca de Agualonga e para quem ser impedido de arrancar sonoridades aos 23 bombos que tem em casa é cair numa tristeza profunda. "Estive, desde Novembro de 2007 a Junho de 2008, sem tocar por motivos de saúde e foi um desgosto muito grande", comenta. Em casa, numa cave, guarda religiosamente a sua colecção de bombos, alguns com mais do dobro da sua idade. "Tenho um que tem mais de 200 anos", revela.
Os olhos brilham-lhe e as palavras saem-lhe como que atropeladas, tal é o entusiasmo de falar na arte que lhe alegra os dias. Para identificar todos quantos integram o seu Grupo de Zés Pereiras de Agualonga, Silvino Santos tem de puxar pela cabeça: "São os meus sete filhos, cinco rapazes e duas raparigas, o meu irmão… o Sérgio e o Ângelo, um genro meu e…um primo, os netos e netas…", vai contando pelos dedos, referindo: "De há uns anos para cá, fui juntando o grupo e às vezes são tantas festas que o partimos todo".
Como bom líder que é dos Zés Pereiras de Agualonga, o avô Santos não poupa elogios ao desempenho da família. "Há para aí muitos grupos mas só nós é que temos um certo toque. Há uns que nos querem 'arremedar' mas não conseguem", afirma com orgulho, revelando: "O nosso segredo é que aprendemos dos nossos antigos".
E passa a descrever os muitos toques que ele e os seus descendentes fazem soar nos bombos e, por vezes também, noutros instrumentos musicais: "Há os tremidos, os apertos, o rufar, a primeira , a segunda… e dentro do grupo ainda há quem toque gaita de foles".
Juntos percorrem festas, feiras e romarias de toda a região do Alto Minho, porque há quem os considere os melhores na arte de manejar as baquetas e tirar partido do forte ribombar dos bombos, pequenos, médios e grandes. A tradição de família, essa, Silvino não tem dúvidas que é para continuar. "Os meus netos são loucos por isto, então, para o mais novo, tocar é uma alegria medonha", afirma, concluindo: "Tenho mais um neto de 11 anos que já é tocador e está à espera de entrar para o grupo".