Festas da cidade culminaram com procissão em honra de Nossa Senhora do Bom Despacho. Saudades das farturas e dos carrosséis atraem multidão.
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Já faltava pouco para arrancar a procissão em honra de Nossa Senhora do Bom Despacho, na Maia, mas o tempo foi mais do que suficiente para Emília Dias comprar um banquinho e encontrar um lugar no passeio, à sombra, para assistir ao cortejo religioso com o marido. Depois de um cancro e cinco meses internada no hospital, a maiata de 62 anos confessa que "é bom sair de casa e conviver".
Na curva da Avenida Visconde de Barreiros, quase a chegar ao Jardim das Pirâmides, começa a aparecer o grupo de escuteiros que comanda a procissão. Instala-se o silêncio. À medida que a comitiva se forma com os padroeiros de cada uma das paróquias, torna-se evidente a forte presença de mulheres a segurar as figuras religiosas. "Somos mesmo as mais fortes", brinca Filipa Pinto, de 48 anos, uma das oito senhoras que segura o andor de Nossa Senhora da Maia. Mas rápido dá a explicação: "Não aparece mais ninguém a não ser mulheres. É preciso gente e nós chegámo-nos à frente".
Ao lado da maiata está Celeste Marques. "Já há 16 anos que pego neste andor e vou fazer 68. É muito bom regressar", refere. O gesto, diz Filipa, é também uma forma de "agradecer estarmos cá mais um ano".
Saudades de farturas
As festividades já começaram a 1 de julho e é desde essa altura que a carrinha das "Farturas Pinto" está instalada junto ao edifício da Câmara da Maia. E tem sido notória, afirma Ana Pinto, a alegria das pessoas em voltar a poder viver as festas como o habitual.
"Dizem-nos que estão com saudades, que há imenso tempo que não comiam uma fartura", conta a vendedora, de 47 anos. A nostalgia tem trazido também vantagens para o negócio, já que o volume de vendas tem superado as expectativas, admite Ana.
"Vários municípios deram-nos a mão. Não estivemos totalmente parados nos últimos dois anos. Autorizaram as licenças para estarmos nas ruas e isso ajudou-nos muito", revela. Ontem em particular, a janela horária de maior procura por farturas seria depois da procissão e no fim do concerto de Rui Veloso.
Aliás, até Emília Dias, que não tinha intenções de ir assistir, começou a ponderar marcar presença depois da compra do banquinho.
Enquanto a procissão chegava à Câmara da Maia, houve quem aproveitasse o ambiente mais calmo nas diversões para entreter os mais novos.
"Como não somos de cá, a parte da procissão passa-nos um bocadinho ao lado. Mas sim, vimos que a procissão estava a andar mas por acaso foi uma coisa fortuita", diz Ricardo Rocha, 43 anos, acompanhado de um grupo de amigos. Foi a maiata Filipa que os convidou. "Somos do Porto. Viemos cá para os miúdos andarem nos carrosséis", diz, enquanto aponta para o grupo de sete crianças. Três são seus filhos.