Em Matosinhos e Vila do Conde, escavações arqueológicas recentes ajudam a compreender as origens remotas dos territórios que hoje ocupamos.
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No subsolo dos centros urbanos ou nos arredores, já em zonas mais marcadas pela ruralidade, cidades e vilas escondem surpreendentes pedaços de História que ajudam a revelar a própria génese desses locais e a conhecer formas de vida milenares. Em Matosinhos, acabam de ser descobertos testemunhos de diferentes rituais fúnebres.
É como montar um puzzle: os achados de hoje vão complementando os do passado e as peças encaixam aos poucos, para traçar a cronologia de tempos remotos cujos vestígios, alguns em notável estado de conservação, foram ficando soterrados pelas novas cidades que surgiram ao longo dos tempos.
Em Lavra, freguesia costeira e rural de Matosinhos, a descoberta casual de uma necrópole, em meados deste ano durante uma obra, surpreendeu e entusiasmou os arqueólogos, que acreditam que o povoado correspondente ao cemitério encontrado ficará perto. Foi a abertura de uma vala, para a construção de um muro numa área onde estão a ser erguidas moradias, que permitiu extrair do solo um novo capítulo da história daquele local, situado na zona de Antela, próximo da igreja de Lavra, num perímetro referenciado no Plano Diretor Municipal (PDM) de Matosinhos como zona de salvaguarda patrimonial por já terem sido encontrados outros achados nas imediações.
Mil anos de ocupação
"Neste território vão aparecendo vários elementos que demonstram a ocupação", aponta o arqueólogo Vítor Fonseca, da empresa Arqueologia e Património, que efetuou as escavações e está a estudar as peças encontradas, que deverão depois ser expostas pela Câmara. Além da necrópole romana, foram ainda descobertas fossas da Idade do Bronze.
"Saber onde é a área da necrópole indica que a vila não está longe, porque os romanos sepultavam fora das vilas, mas à entrada", lembra a arqueóloga Lídia Baptista, da mesma empresa, referindo que, além de sepulturas de inumação, foram também descobertas estruturas de incineração, anteriores, com várias peças associadas aos diferentes rituais fúnebres.
Testemunho de mil anos de ocupação, a Cividade de Bagunte, em Vila do Conde, continua a ser alvo de escavações com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre o funcionamento daquele povoado fortificado, cuja génese é anterior à ocupação romana. "Estas investigações dão dados adicionais, que permitem compreender melhor como se vivia neste local e como se ocupavam os espaços", explica o coordenador do Gabinete de Arqueologia da Câmara de Vila do Conde, Pedro Brochado de Almeida.
Por outro lado, explica o arqueólogo, está ser feita a consolidação das ruínas descobertas em campanhas anteriores e que permitem, por exemplo, identificar núcleos habitacionais romanos, com os respetivos arruamentos.
Durante este ano, ficará concluído o centro de receção da Cividade de Bagunte, que está a ser construído, e as peças que vão sendo recuperadas através das escavações e cujo processo de conservação é feito no Gabinete de Arqueologia, podem ser vistas no Centro de Memória e na sede da União de Freguesias, de forma a "fazer a ligação [do projeto] com a comunidade".
Outros achados
Mamoa em Santo Tirso
Até ao próximo dia 19, o Centro Interpretativo do Monte Padrão, em Monte Córdova, tem patente a exposição das cerca de 20 peças retiradas de uma mamoa, um monumento megalítico funerário que remonta à Pré-história e que em 2018 ficou a descoberto na zona da Ermida, em Santa Cristina do Couto, graças a obras de ampliação de uma empresa.
Militares de Napoleão
No ano passado, o restauro de uma casa na Rua de S. Miguel, no Porto, levou à descoberta das ossadas de 13 militares de Napoleão, que terão sido mortos durante a Batalha do Porto, em março de 1809, durante a Segunda Invasão Francesa.
Escavações em Alvarelhos
Na Trofa, a candidatura "Promoção, valorização e beneficiação do castro de Alvarelhos", no âmbito do programa Norte 2020, permitiu voltar a realizar estudos arqueológicos no povoado fortificado.