Investimento de 820 mil euros anunciado em 2017, quando Francisco veio a Portugal, nunca funcionou. Hoje, continua inoperacional.
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Foi anunciado como peça importante na gestão do tráfego aquando da visita do Papa Francisco a Fátima (Ourém) em maio de 2017, mas o sistema de mobilidade da Cova da Iria, que custou 820 mil euros, nunca funcionou em pleno. Estava assim há um ano, quando o JN denunciou o caso, e assim continua a menos de quatro meses do Santo Padre voltar à cidade-santuário. A falta de articulação entre as entidades envolvidas no processo - Câmara, empresa e Santuário - é uma das razões para o falhanço do projeto.
O Sistema de Mobilidade contemplava a instalação de sinalética digital e de dispositivos para contabilizar as entradas e saídas de veículos dos parques de estacionamento, que funciona apenas em alguns lugares atrás do santuário e em dias de grandes enchentes.
O presidente do Município, Luís Albuquerque, reconhece ao JN que "está tudo igual" como há um ano. Ou seja, equipamentos inoperacionais e, em alguns casos, danificados. Segundo o autarca, não haverá qualquer "upgrade" ao sistema para a próxima visita papal. No futuro, "se verá", diz, lamentando que um sistema "bem pensado tenha sido mal concretizado", por "nunca se ter falado com o Santuário", dono dos parques de estacionamento, alguns dos quais ainda em terra batida, condições que não permitem a contagem dos lugares vagos e ocupados.
Confirmando que não recebeu "qualquer contacto" com vista a encontrar soluções para que o sistema possa ficar operacional, o Santuário alega ainda que, apesar de ter os parques para a implementação do sistema, "não tem, nem nunca teve, qualquer responsabilidade na gestão de equipamentos".
A Soltráfego, empresa à qual foi adjudicada a instalação do sistema, assegura que os equipamentos estão "ainda dentro do seu período de vida útil e tecnologicamente atualizados". Pelo que, "apesar do tempo decorrido", é possível reaproveitá-los, com custos que "são compensadores".
Evitar "andar às voltas"
De visita a Fátima, onde vêm com regularidade, Alexandra Sá e Gonçalo Botelho, que o JN encontrou junto ao acesso aos parques 4 a 6, contam que "nunca" viram o sistema a funcionar, mas, admitem que, se estivesse operacional, "seria útil" como "controlo" do trânsito e estacionamento. "Se houvesse informação de que já não há lugares disponíveis, evitávamos entrar e andar às voltas", refere Gonçalo, que se manifesta "perplexo" com o custo do sistema. "É muito dinheiro", constata.
Mais do que o valor investido, Taís Melro lamenta a inoperacionalidade do sistema. "Funcionando, seria uma boa ajuda, sobretudo em dias de grandes peregrinações", assume a jovem.
Estacionamento
Câmara aposta em terrenos privados
Cerca de 300 mil euros é quanto a Câmara de Ourém prevê gastar com a logística em Fátima por ocasião da Jornada Mundial da Juventude e da visita do Papa. A operação contempla estacionamento, a criar em terrenos particulares, sendo que já foram disponibilizadas à autarquia 100 parcelas, com capacidade para 5000 viaturas.
A autarquia vai ainda instalar mais de 70 sanitários portáteis e dois parques para autocarros.
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Santuário dispõe de 14 parques
O Santuário de Fátima dispõe de 14 grandes parques de estacionamento em torno do recinto de oração, com capacidade para milhares de carros e autocarros. Os espaços mais próximos da autoestrada são em terra batida, inviabilizando a contagem dos lugares.
Postos informativos
Além da contagem de veículos nos parques, o sistema previa a instalação de postos informativos na cidade, que não existem, aos quais as pessoas podiam recorrer, caso estivessem perdidas ou precisassem de localizar algum estabelecimento.