<p>Parece que em Felgueiras nunca ninguém votou em Fátima. Se a autarca tinha apoiantes, parecem ter desaparecido da noite para o dia. </p>
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No centro da cidade, imensas pessoas garantem nunca ter votado na "Fatinha". À margem da questão, o novo presidente "dormiu a correr" e o telemóvel não parou de tocar repetidamente com votos de felicitação.
Um dia depois do terramoto eleitoral que afastou Fátima Felgueiras do poder, são inúmeros os felgueirenses apoiantes de Inácio Ribeiro, o economista de 43 anos que protagonizou a primeira ascensão do PSD e do CDS à cadeira do poder autárquico.
Com o rodopio de televisões e de jornalistas pela praça principal durante a tarde de ontem, reformados ou desempregados colocavam-se em posição estratégica para darem palpites à Comunicação Social.
Os emigrantes José Ribeiro, de 63 anos, e a mulher Emília Teixeira, de 59 anos juram nunca terem votado para a autarquia. E se alguma vez o fizeram, dizem, foi "por correspondência". Moradores em Airães, garantem que votaram pela primeira vez para afastar Fátima Felgueiras do poder.
O marido assegura que "o povo andava com os olhos tapados e com medo" e acredita que a derrota de Fátima se deve "à vergonha que as pessoas tinham de Felgueiras". "Enquanto ela esteve no PS era um mar de rosas", afirma o emigrante que jura a pés juntos nunca ter votado em Fátima Felgueiras.
Higino Martins, de 45 anos, à porta de um estabelecimento comercial, diz ter chegado "um 25 de Abril a Felgueiras". "Respira-se um ar de liberdade. O concelho tinha um ar degradado e quando eu dizia que era de Felgueiras as pessoas riam-se com ar de chacota", assegura.
Maria José Faria, de 38 anos reformada, junta-se à conversa: "ela [Fátima Felgueiras] já ajudou o povo, mas difamaram-na e ela mesma perdeu porque não fez nada", afiança esta eleitora de Regilde. No quiosque da praça, Manuela Pinto, que há anos vende jornais, diz que "houve uma mudança radical". "A doutora Fátima aumentou o preço da água e as pessoas ficaram zangadas. Ela perdeu também porque houve desgaste", assegura.
Adiante, mais quatro pessoas, cidadãos anónimos de Felgueiras, entoavam em uníssono que "a ditadura acabou em Felgueiras". Entre o grupo, nunca ninguém votou em Fátima Felgueiras! Quando perguntámos "então quem votou em Fátima Felgueiras ao longo destes anos?". As respostas foram evasivas: "Sei lá! Era gente que não tinha dois dedos de testa", reclama um homem que se escusou a ser identificado.
Alheio a este "estado de espírito" colectivo, o novo presidente, Inácio Ribeiro, oriundo de uma família humilde, garante que o poder não lhe vai mudar a personalidade. "Espero que do ponto de vista pessoal não mude nada, seja apenas a aplicação às funções de presidente de Câmara de Inácio Ribeiro e apenas isso. Tive outras funções em diversos organismos e não precisei de me reformatar. Espero, portanto, continuar a ser o Inácio Ribeiro", garantindo que vai querer saber seguramente o que está feito, em cima da mesa, "à data da recepção da herança". "Vou querer saber isso com todo o rigor", assegura.
Admirado porque os jornais deram mais importância à derrota de Fátima do que à sua vitória, o novo presidente revela manter um estilo discreto, sem marketing de personalidade, de modo a fazer valer as competências colectivas do concelho. "Eu normalmente não sou pessoa de perder causas e já há três anos e meio acreditava profundamente que estavam reunidas as condições para vencer estas eleições para que o concelho alterasse politicamente o seu rumo", assegura Inácio Ribeiro.