Quando no almoço de Páscoa de 2019, recebeu das mãos do seu irmão Orlando, o testemunho para, no ano seguinte, ser o Mordomo da Cruz de Fontão, Norberto Fernandes chorou de emoção, abraçado aos filhos Alexandre e António. Cumprir aquela tradição é um orgulho, que se transmite de geração em geração, e o empresário do ramo das madeiras, natural daquele freguesia de Ponte de Lima, ficou feliz.
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Estava era longe de imaginar que, por causa de uma pandemia, demoraria quatro anos a concretizar a honrosa tarefa que lhe foi incumbida. E que, entretanto, perderia sogro e pai, também eles antigos mordomos, que muito se orgulhariam de o ver nesse papel.
Com menos alegria do que gostaria, mas determinado e com a família unida em torno da organização do grande momento, Norberto será finalmente anfitrião da tradicional Páscoa de Fontão, no próximo domingo. A principal tarefa é preparar um almoço para praticamente toda a freguesia e alguns convidados.
"Ainda não tenho ideia do número certo, mas tenho apalavradas umas 450 pessoas", contou ao Jornal de Notícias, adiantando que "a tenda já está montada", no terreno junto à estrada que liga Viana do Castelo e Ponte de Lima, onde se realizou o último repasto em 2019. Referiu também que já está tudo alinhado para a confeção da ementa da mega refeição: sopa de legumes, filetes, cabrito, vitela, sobremesas e doçaria típica da quadra.
As quantidades são industriais: "200 quilos de cabrito, 100 quilos de pescada e outros 100 de vitela".
Organizar tamanho repasto tem sido uma canseira.
"Eu e a minha mulher, há meses que não dormimos. Só quem passa por isto é que sabe. É uma logística muito forte", confessou, comentando que o esforço para levar adiante a tarefa passados estes quatro anos, tem sido dobrado por causa da ausência de alguns entes queridos.
"Desanimei porque começaram a ir embora as pessoas que nós gostamos. Se tenho feito a Páscoa em 2020, o meu sogro fazia 50 anos de ter sido mordomo e o meu pai 70. Faz ideia do que é, após isto, ir tudo embora?", lamentou, prometendo, contudo, fazer a festa a rigor, em honra dos seus entes queridos e também das gentes de Fontão. "Domingo vou andar com as luvas que o meu sogro andou há 54 anos, quando foi Mordomo", disse, acrescentando: "Esta festa é do povo. É um encontro de amigos. Fazer isto é o maior gosto que tenho na vida".
Fontão vai assim voltar a celebrar uma das mais típicas e maiores Páscoas do país.
Manda a tradição que o Mordomo da Cruz organize um almoço para a freguesia. No domingo durante a manhã, o anfitrião percorre a freguesia com o compasso e chega ao local do almoço, carregando a cruz, sendo recebido pelos seus convivas com cânticos de Aleluia e aplausos. Ainda durante a refeição é cumprido o ritual de passar o testemunho ao próximo Mordomo, que é sempre aclamado com alegria.
Norberto, já tem debaixo de olho o Mordomo da Páscoa de 2024. A poucos dias de passar o testemunho, diz com graça: "Ele não sabe. É segredo. E vamos tentar levar essa até ao fim".