Para Paulina, é um regresso. Um regresso vertiginoso à Torre dos Clérigos, com uma performance que combina dança, música e luz. Num só espetáculo, a que o Porto pode assistir nesta sexta-feira, pouco depois das 21 horas, assinala-se uma série de aniversários. Desde logo o do JN, parceiro da Irmandade dos Clérigos nesta iniciativa.
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O fio condutor é o 2 de junho. Nesse dia nasceu o JN, em 1888. E também o arquiteto que projetou os Clérigos, Nicolau Nasoni (1691). Foi ainda a 2 de junho, no ano de 1732, que o Porto assistiu à cerimónia de lançamento da primeira pedra da igreja. Mais tarde, em 1946, os italianos eram chamados a escolher, através de referendo, como queriam ser governados e assim fizeram nascer a República da Itália.
É com uma fusão de todos estes momentos históricos que Paulina Almeida volta a fazer uma dança vertical na Torre dos Clérigos, dez anos depois da primeira vez, quando se assinalaram os 250 anos da conclusão do monumento. A partir de um ponto de segurança instalado no topo, vai descer até chegar perto do público, com o qual fará uma "interação subtil", como explicou ao JN.
A bailarina diz-nos que a performance será "quase uma dança com a torre", sobre a qual vão ser projetadas as cores de Itália. Junto ao monumento, haverá luminárias a evocar o lançamento da primeira pedra, ao mesmo tempo que serão lidos excertos de textos que marcaram a cerimónia de 1732. Jornais a esvoaçar do alto da torre, jornais empilhados no chão: estes vão ser os momentos dedicados ao JN, quase no final da atuação, que contempla ainda a oferta de pequenas pedras de granito ao público.
É uma apresentação única, criada especificamente para este dia, que contará ainda com música de Henk van Twillert e do coletivo Vento do Norte. A técnica aérea é assinada por Ron van Roosmalen.
O programa preparado pela Irmandade dos Clérigos é também centrado nos 250 anos da morte de Nasoni. Para esta sexta-feira, às 18 horas, está agendado um concerto com música italiana, na igreja, com o Ensemble Vivian a interpretar peças dos períodos clássico e barroco.
Destaca-se ainda uma série de passeios evocativos da obra daquele que ficou conhecido como "o arquiteto do Porto". Uma vez por mês, ao fim de semana, o historiador e arqueólogo Joel Cleto vai guiar os visitantes pelos mais emblemáticos monumentos saídos do traço de Nasoni ou que, de alguma forma, tiveram intervenção sua. Além das igrejas dos Clérigos, da Misericórdia e de Santa Marinha (Gaia), entre junho e outubro será possível conhecer ao pormenor, por exemplo, a casa da Quinta da Prelada, a Sé Catedral ou o Palácio do Freixo.
Recordemos outra parceria do JN com a Irmandade dos Clérigos por esta ocasião. É que hoje, o leitor tem ainda oportunidade de receber, com o jornal, uma maquete em miniatura da torre para montar.
Alpinistas do granito
Do alto dos seus 75 metros, a torre que desde 1995 dá música à cidade através de um imponente carrilhão tem sido um desafio para intrépidos alpinistas do granito. Damos a conhecer alguns desses momentos.
Tudo começou a 15 de julho de 1917, quando os acrobatas espanhóis José e Miguel Puertollano, pai e filho, protagonizaram a primeira escalada oficial. Vieram pela mão de Raul Caldevilla, produtor, realizador e publicitário natural do Porto que viria a tornar-se uma das figuras mais importantes dos primórdios do cinema em Portugal.
Do cimo lançaram milhares de panfletos publicitários, incluindo da empresa de Caldevilla, da seguradora Triunfo e dos Armazéns do Anjo. Do feito resultou o documentário "Escalada à Torre dos Clérigos", realizado por Caldevilla, que foi exibido em várias salas do país.
A dupla voltou a escalar a torre a 28 de outubro, ainda em 1917, então para convidar os milhares de portuenses que assistiam a beber um chá e a comer bolachas "Invicta". Os registos destas façanhas resultaram no filme "Um chá nas nuvens", que teve estreia absoluta marcada para o Águia d'Ouro dias depois.
Nos anos que se seguiram houve mais três escaladas. Carlos Pereira dos Santos e António Azevedo fizeram-no em 1919, levando para o topo a bandeira republicana. No início da década de 1920, subiu à torre o portuense Veridiano Martins, conhecido por "Veriman", e depois foi a vez dos acrobatas Mário Pinheiro e António Néstor Afonso.
No dia 2 de junho de 1979, o conceituado alpinista espanhol César Pérez de Tudela demorou cerca de hora e meia a escalar a torre, momento que mereceu transmissão em direto pela RTP. Numa iniciativa do "Jornal de Notícias", a escalada assinalou os 91 anos do JN e lembrou a Declaração dos Direitos da Criança, proclamada pela ONU a 20 de novembro de 1959, e ainda o aniversário de Nicolau Nasoni.
Novamente a 2 de junho, mas em 1991, o JN promoveu mais uma escalada, protagonizada por outro alpinista espanhol. José Rubio subiu ao cimo da torre em cerca de 45 minutos mas não pôde contar, como se previa, com a companhia de Mónica Mariño - era a grande novidade da iniciativa. Nesse ano, celebraram-se os 103 anos do nosso jornal e o terceiro centenário do nascimento de Nasoni.