"Desertas" ligou o mar à ria e foi construídopara desencalhar barco atacado pelos alemães em 1918.
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Custou 300 contos e demorou dois anos. O Canal das Desertas, que ligou o mar à ria de Aveiro, foi feito em 1918 para salvar um navio encalhado na Costa Nova. Uma das maiores obras de engenharia na época agora lembrada.
Uma placa evocativa ao "Canal do Desertas" foi recentemente colocada na Costa Nova (Ílhavo) pelos "Amigos d'Avenida". O "Desertas" foi um vapor que, em Fevereiro de 1916, encalhou a sul da Costa Nova, por ordem do capitão do navio devido a uma avaria nas máquinas e à metereologia. Vinha de Leixões. O navio, de 112,47 metros de comprimento e 12,75 de boca, encalhou a quatro milhas a sul dos palheiros da Costa Nova.
A salvação do barco gerou controvérsia na altura entre quem defendia o desmantelamento do navio e quem aconselhava o salvamento da embarcação. Pelo mar ou pela ria, abrindo um canal na língua de areia que separa a ria do mar? A discussão foi acessa com os efeitos da I Grande Guerra Mundial a fazerem-se sentir pelo meio. No Verão de 1918, o "Desertas" quase foi atingido por um bombardeamento alemão.
Em Junho de 1918 iniciou-se a construção de um canal que ligou o mar à ria de Aveiro, com 900 metros de comprimento e 30 de largura. O projecto para salvar o barco foi considerado uma das maiores obras de engenharia para a época em Portugal, que culminou em sucesso depois de uma despesa de 300 contos e dois anos de trabalhos.
O processo de salvamento foi complexo. A pouca profundidade da ria em alguns locais relativamente ao calado do navio e a ponte do Forte-Barra foram dois problemas. De tal forma que a ponte, em madeira, foi cortada para permitir a passagem do "Desertas".
Em 20 de Março de 1920, o "Desertas" iniciou uma viagem pelas águas da ria, que o conduziu à saída da barra de Aveiro rumo a Lisboa, onde chegou no dia seguinte.
As vantagens económicas para a praia foram muitas. O movimento de transacções intensificou-se, favorecendo o comércio local. E o "Canal do Desertas", como se chamou até à década de 70, passou a ser procurado pela riqueza piscícola, por gerações de pescadores da "chincha" (arte de pesca em que os pescadores cercam os peixes com uma rede na ria).