Refinaria de Matosinhos, que ocupa 300 hectares em Leça da Palmeira, inaugurada há 50 anos. No ano passado, de lá saíram cerca de cinco milhões de toneladas de produtos, sobretudo combustíveis.
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É uma indústria que não abranda há meio século. Inaugurada há 50 anos, a Refinaria de Matosinhos emprega diretamente cerca de 450 trabalhadores. Junto ao mar, em Leça da Palmeira, a laboração é contínua.
No recinto de quase 300 hectares, estão instaladas quatro fábricas: combustíveis, lubrificantes, óleos-base e aromáticos. Tudo derivados do petróleo bruto que chega à refinaria através do Porto de Leixões.
Só no ano passado, foram expedidas cerca de cinco milhões de toneladas de produtos, maioritariamente combustíveis rodoviários e para aviação e lubrificantes. Destinam-se à exportação e ao abastecimento do mercado nacional.
Luís Gomes conhece bem o funcionamento da refinaria. Esteve mais de três décadas ao serviço da empresa. Assinou contrato em 1974 e não tem dúvidas: "A refinaria contribuiu muito para o engrandecimento de toda a zona do Porto. Na altura, havia meia dúzia de restaurantes em Leça da Palmeira e Matosinhos.
Hoje, há centenas. A Petrogal também contribuiu para isso, porque tinha muita gente a trabalhar", referiu Luís, de 70 anos, atualmente reformado. A empresa ainda funciona por turnos. Trabalha-se 24 horas por dia, 365 dias por ano.
Luís Gomes recorda as rotinas. Entre colegas, a passagem de testemunho era feita através de um relatório e de uma conversa para obter um ponto de situação. No posto de trabalho, da roupa ao manuseamento dos equipamentos, a segurança nunca podia ser descurada. Usavam-se viseiras, fatos ignífugos (antifogo), botas, capacetes e luvas. "A brincar, dizíamos que era preciso andar sempre com o olho aberto", referiu Luís Gomes, que nunca teve nenhum acidente de maior.
"Não fazem ideia..."
Já Luís Correia tem uma pequena marca de guerra na mão. "Houve uma fuga, seguida de uma explosão", explicou. À data do acidente, pertencia ao departamento de higiene e segurança. Mas a carreira na refinaria iniciou-se na fábrica de combustíveis.
Além das memórias, ainda guarda alguns pertences da profissão. Tem um fato, óculos e um casaco. "Fui para a fábrica mais aliciante da refinaria. O petróleo em bruto entrava numa coluna de destilação e daí era separado em função das temperaturas e das pressões. Depois ainda ia para outras unidades para fazer separação de outros produtos mais leves", detalhou. "As pessoas não fazem ideia do que é uma refinaria. Só quem lá entra. Aquilo é um mundo", acrescentou.
Quem vive ao lado do imenso complexo da refinaria da Galp reconhece a sua importância para a economia. "É um veneno, mas emprega muita gente e trouxe dinamismo. Isto era tudo bouças", recorda José Rebelo, morador em Perafita, na fronteira com Leça da Palmeira, que testemunhou o avanço das obras no terreno.
"Limparam tudo, trouxeram uma série de máquinas e começaram a levantar as instalações. Demorou para aí uns dois anos", contou o homem de 77 anos que, durante três anos, trabalhou com o sobrinho como jardineiro na refinaria. Enquanto morador, tem duas queixas: o "barulho" e o "mau cheiro".
"Na altura, não havia muita coisa à volta. Agora, a refinaria está no meio de uma cidade e Leça da Palmeira foi-se desenvolvendo muito à volta", acrescentou Albino Gonçalves. A viver em Angeiras, acredita que não há motivos para ter receio de viver perto das instalações. No entanto, confessa ter sentido medo uma vez: "Ia a passar de carro, ouvi explosões e vi um incêndio. Pensei que ia rebentar tudo", disse.
Inauguração
Inaugurada apenas a 5 de junho de 1970 (com direito a manchete no JN), a refinaria começara a produzir um ano antes. Tinha capacidade para tratar dois milhões de toneladas de combustível por ano. É composta por quatro fábricas: combustíveis, aromáticos, óleos-base e lubrificantes.
Emergências
Além de um plano de emergência externo para a refinaria, a Câmara de Matosinhos fez um investimento na criação de equipas operacionais nos bombeiros voluntários do concelho, no sentido de estarem aptos a dar resposta a emergências.