São quatro os candidatos a ocupar o lugar de reitor da Universidade do Porto, para o mandato de quatro anos, até 2026.
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António de Sousa Pereira, o atual reitor, recandidata-se a um segundo mandato. Altamiro da Costa Pereira, diretor da Faculdade de Medicina, João Falcão e Cunha, diretor da Faculdade de Engenharia, e Anand Agrawal, reitor da Universidade de BlueCrest (Gana), são os outros pretendentes ao cargo. A inclusão de um estrangeiro na lista não é novidade. Em 2018, na última eleição, o Conselho Geral admitiu dois candidatos britânicos. Será o Conselho Geral, composto por 23 elementos, que irá eleger o novo reitor. Hoje, os quatro concorrentes terão uma audição pública, no salão nobre da Reitoria, para exporem os seus programas e responderem às perguntas. O indiano Anand Agrawal fará a sua intervenção por videoconferência. A votação decorrerá na próxima sexta-feira. Nesse mesmo dia, 6 de maio, será conhecido o reitor da Universidade do Porto para o quadriénio.
Três perguntas
1. Quais os principais objetivos da candidatura?
2. Qual é o maior problema da Universidade do Porto e que solução preconiza?
3. Vai incrementar a relação da U. Porto com as empresas e autarquias? De que forma?
António Sousa Pereira - Reitor da Universidade do Porto
1. A minha candidatura visa, antes de mais, prosseguir o projeto que idealizei para a Universidade do Porto em 2018, quando assumi as funções de reitor. As contingências impostas pela pandemia limitaram o exercício do atual reitorado e, em consequência, impediram a cabal concretização do meu projeto. Tenho, por isso, o imperativo ético de continuar o trabalho que iniciei e não concluí por força das circunstâncias.
Dito isto, sublinho que o grande objetivo estratégico da minha candidatura é a consolidação da Universidade do Porto como universidade europeia de investigação. Ou seja, continuar a afirmar a Universidade enquanto instituição vocacionada para a produção de conhecimento tecnocientífico com verdadeiro impacto internacional, em cujo campus se estabelece uma relação sinérgica entre os processos de ensino-aprendizagem e as atividades de I&D+i.
2. O desinvestimento na manutenção e reequipamento das instituições públicas conduziu à crescente degradação dos "campi" universitários, bem como à obsolescência de muitos dos seus recursos científicos e tecnológicos.
Daí que a Universidade do Porto necessite de renovar as suas instalações, melhorar as suas infraestruturas, recuperar e valorizar o seu património histórico-cultural, reequipar as suas unidades de ensino e investigação, alargar a sua rede de residências estudantis e criar novas valências de apoio social.
Para tanto, há que aproveitar as oportunidades de financiamento abertas pelos novos fundos comunitários e estabelecer parcerias com instituições locais e regionais, como as autarquias, em projetos de requalificação urbana, infraestrutural e ambiental que beneficiem quer a Universidade, quer a comunidade envolvente.
3. Como maior produtor nacional de ciência, a Universidade do Porto tem a obrigação de estar na linha da frente da estratégia de desenvolvimento do país. Queremos, pois, assumir um papel ainda mais relevante na transformação do tecido económico e social, contribuindo com a nossa massa crítica e potencialidades científicas e tecnológicas para a adoção de um modelo de desenvolvimento inteligente, sustentável e inclusivo em Portugal.
Isto implica a criação de novas plataformas de diálogo, de novos instrumentos de cooperação e de novos modelos de parceria entre a Universidade e os restantes motores de desenvolvimento, designadamente as empresas e autarquias.
Altamiro da Costa Pereira - Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
1. Sumariamente, o meu principal objetivo é ajudar a reforçar a identidade e a reconfigurar a ação da Universidade do Porto, aumentando a sua coesão interna e recentrando-a em torno dos interesses dos seus estudantes e da sua cidade. Gostaria também de tornar a Universidade do Porto numa instituição com "mais is", ou seja, mais inspiradora, internacional, integrada e integradora, mais interdisciplinar e inovadora, mais íntegra e inclusiva e com mais investigação e iniciativa.
2. Talvez o maior problema da Universidade do Porto seja o facto de ainda não ser uma verdadeira Universidade, no sentido mais identitário e funcional do termo.
A Universidade do Porto continua a ser um somatório ou uma federação de faculdades, de laboratórios associados e de outras entidades incluídas no seu universo, cujo deficiente nível de organização e de interações interpessoais tem gerado ineficiências e iniquidades na utilização de recursos, conduzindo a desperdícios e à deficiente criação de sinergias que, desejavelmente, deveriam decorrer da enorme e riquíssima diversidade humana e disciplinar existente na Universidade.
3. Claro que sim. Essa interação é crucial para a completa implementação das diversas missões da Universidade do Porto. Sem essas inter-relações, como é possível servir a cidade do Porto e o Norte de Portugal?
Haverá que estabelecer as necessárias pontes, criando condições para o desenvolvimento de parcerias empresariais e institucionais que sejam mutuamente fecundas. Haverá que sair do conforto e da segurança ilusória das académicas torres de marfim e procurar estabelecer alianças frutuosas com a sociedade envolvente. Haverá que trazer para a Universidade do Porto mais profissionais de excelência como professores convidados, dando ainda incentivos académicos e materiais aos docentes de carreira, de modo a que estes possam fazer também mais prestações de serviços, promovendo uma maior transferência de conhecimento e tecnologias para as empresas. Sobretudo, haverá que ir ganhando confiança e respeito mútuos, pois embora a Universidade, as empresas e as autarquias tenham muitas missões diferentes, todas partilham uma que lhes é comum: a de servirem o desenvolvimento e o bem-estar da cidade, da Área Metropolitana, da Região Norte, do país e da Europa. E, tendo este facto em mente, será mais fácil ultrapassarmos obstáculos e interesses menores e construirmos, em conjunto, um futuro melhor para todos.
João Falcão e Cunha - Diretor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
1. A minha candidatura a reitor resume-se no título do Programa de Ação: "2026 - Uma Universidade do Porto Surpreendente". Orientado pela sua missão, e inspirado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, proponho 26 objetivos para valorizar a Universidade e colocá-la num patamar internacional mais elevado. É prioritário que as pessoas vinculadas à Universidade do Porto nas unidades orgânicas, unidades de investigação e serviços, assim como nas entidades participadas, partilhem o que designo como Cultura de Competência. As pessoas incluem os docentes, estudantes, investigadores e técnicos que com os seus conhecimentos e experiências multidisciplinares, e com pensamento criativo e crítico, vão tornar a Universidade do Porto surpreendente. As pessoas e organizações com quem a Universidade do Porto se relaciona irão também partilhar desta cultura, em especial os Alumni e os líderes da sociedade. E todas as pessoas e organizações que estão, ou podem vir a estar, envolvidas com a Universidade.
2. A Universidade do Porto evoluiu com base em escolas autónomas e auferindo das louváveis e reconhecidas iniciativas das pessoas e dos grupos que a constituem. É hoje uma instituição grande, variada e complexa em que falta, todavia, auscultação, comunicação e ambição. A par deste problema maior, existe demasiada burocracia gerada por regulamentação excessiva e processos morosos que desmotivam as pessoas e as afastam da sua missão superior.
É urgente unir a Universidade, melhorar a cooperação com a sociedade, promover a interdisciplinaridade, atualizar e simplificar os processos de gestão de informação e comunicação. E, sobretudo, urge criar e apoiar projetos ambiciosos.
3. Não basta haver "pontes" entre a Universidade e as instituições externas, empresas ou autarquias, baseadas em protocolos e acordos genéricos. É preciso que as pessoas envolvidas se sintam motivadas e "dancem" juntas, trabalhando de forma complementar e potenciando sinergias. Parece difícil, mas tudo passa por ter ideias e sonhos interessantes, de parte a parte, ouvir, propor colaboração e pedir ajuda. E trabalhar. Como dizia o poeta: "Eles não sabem nem sonham/Que o sonho comanda a vida/E que sempre que o homem sonha/O Mundo pula e avança".
O Programa de Ação indica metas a atingir e refere os meios necessários para que os 26 objetivos permitam em 2026 termos uma Universidade do Porto Surpreendente!
Anand Agrawal - Reitor da Universidade de BlueCrest (Gana)
1. Fiz pesquisa, recolhi informação sobre a Universidade do Porto e acredito que a Universidade tem muito potencial, mas também há muito para fazer.
Já trabalhei em vários países, nomeadamente na Índia, Malásia, Filipinas e Emirados Árabes Unidos. Considero-me um cidadão do Mundo. Até agora, em 111 anos de existência, a Universidade do Porto nunca elegeu um reitor que não fosse português. Os 20 reitores foram todos portugueses. Considero que chegou o tempo de a Universidade ter um reitor mais jovem e com experiência internacional.
Esse passo ajudará a Universidade do Porto a concretizar três grandes objetivos, que entendo serem prioritários: transformação, internacionalização e sustentabilidade. Com a experiência que adquiri, posso introduzir as melhores práticas.
2. Melhorar a posição da Universidade do Porto no ranking internacional é um objetivo e um problema ao mesmo tempo. A Universidade tem de estar mais bem classificada [pela tabela do QS World University Ranking, a Universidade do Porto ocupava a 295.a posição mundial, em junho de 2021].
Entrar para o lote das 100 melhores deve ser uma ambição. Mas não basta ganhar posições, também é necessário adotar os melhores padrões de ensino e de aprendizagem. Entre outros fatores, é necessário ter mais professores e investigadores de outros países. O mesmo se aplica ao "staff". Por esta via promove-se a internacionalização, para estar no top 100.
Outro problema, relacionado com a sustentabilidade, é o financiamento. É uma preocupação atual. Têm de ser encontradas fontes de financiamento para a Universidade do Porto ser autossuficiente em quatro anos e seguir, assim, no caminho certo.
3. A Universidade do Porto ainda é muito tradicional. Requer modernização, como já disse. São imprescindíveis novas propostas e iniciativas.
A UPTEC Parque de Ciência e Tecnologia [promove a criação e desenvolvimento de projetos empresariais nas artes, ciências e tecnologias, através da partilha de conhecimento entre a Universidade do Porto e o mercado] é uma boa medida, mas é preciso fazer mais. Envolver a comunidade, as companhias e as empresas, como acontece na Ásia, por exemplo, apoiando a criação de "startups", seja ao nível da gestão, da indústria ou de novos negócios.
Detalhes
Audição todo o dia
Hoje, a audição pública contará com dois candidatos de manhã e dois durante a tarde. Inicia-se às 9 horas, terá uma pausa para o almoço e o último a apresentar-se falará às 16 horas.
Programa e questões
Na audição, cada candidato terá 30 minutos para fazer a apresentação do seu programa. Somam-se mais 60 minutos, que é o tempo para responder a perguntas.
Limite de mandatos
Para os reitores da Universidade do Porto há limite de mandatos. Só podem fazer dois. Para António de Sousa Pereira, caso seja reeleito, será o último.