Instituição tem 12 centros localizados em bairros sociais. "Cada um paga o que pode. Desde dois euros por mês". Ajuda vai dos mais novos aos mais idosos. Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já visitou as instalações por duas vezes.
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Estamos a meio do dia. É hora de almoço. Impera o sossego no Bairro do Cerco, no Porto. À porta do Centro Social, algumas pessoas vão-se posicionando para receber as refeições que levarão para casa. Lá dentro, na cozinha, é a azáfama do costume. Nada que atrapalhe as rotinas das tarimbadas funcionárias.
Além da comida em regime "takeaway", há que preparar os alimentos destinados a quem beneficia do serviço de apoio domiciliário. Vão em sacos e devidamente compartimentados. A máquina parece estar bem oleada. Segundo Manuel Moreira, presidente do Conselho de Administração da Obra Diocesana, a instituição dá apoio a "duas mil pessoas" nas diversas atividades, desde as creches e o ensino pré-escolar à ocupação de tempos livres, ATL, entre outras.
Maria Gil Marques é habitante do Cerco e está à porta do Centro Social, à espera para levar a refeição, para si e para o marido, tirando, também, partido dos raios de sol que iluminam a Invicta. Tem 84 anos e a curta viagem é um pretexto para "arejar".
Aos poucos, os centros de dia vão reabrindo. Com regras apertadas, a mando das autoridades de Saúde. No Cerco, a lotação do refeitório foi diminuída. Na data da visita do JN, a ementa, "bacalhau à Gomes de Sá", agrada. Os utentes cumprem as normas de distanciamento, vão-se adaptando à nova realidade e o ambiente é de satisfação por este regresso ao convívio. É que a pandemia ditou o fecho entre março e setembro. "Foi custoso", dizem.
Protocolo com a Câmara
Viajando na cidade, de Oriente para Ocidente, deparamo-nos com o Centro Social da Pasteleira, junto ao antigo reservatório. Integrado numa zona verde, quase passa despercebido, não obstante ser espaçoso, com muita área ao ar livre. O que é ótimo para as crianças. Como assinala a coordenadora Maria de Lurdes Regedor, os equipamentos da Obra Diocesana acabam por ser o "único recurso" para muitas famílias carenciadas.
No Porto, a instituição conta com 12 centros sociais, implantados em outros tantos bairros, e cada agregado contribui à medida da sua possibilidade. "As mensalidades podem ser de dois, quatro, oito ou nove euros, e por aí fora. Cada um dá o que pode", assinala Manuel Moreira, para evidenciar a necessidade de uma gestão criteriosa. "Só para a lavandaria vão duas toneladas de roupa por dia", faz notar, incluindo nestes números o apoio domiciliário. "Somos nós que recebemos as reformas. Tratamos de tudo. No fundo, somos a sua família", reforça Maria Regedor sobre a relação com os idosos.
A instituição foi fundada em 1964 e está sob a dependência da diocese de Porto. Por duas vezes, ao longo do mandato presidencial, recebeu a visita de Marcelo Rebelo de Sousa. As instalações são cedidas pela Câmara e há um protocolo com a Autarquia para reabilitar o edificado e os espaços verdes até março de 2021. O Instituto do Emprego e Formação Profissional dará provimento ao pedido para o reforço das equipas com mais duas dezenas de funcionários.
Os cuidados inerentes à covid-19 tornam a tarefa exigente. Os equipamentos de proteção individual são um gasto acrescido. Sobretudo nos centros de dia. Mas, para os utentes, o seu funcionamento não tem preço. "Durante o fecho, foi complicado estar em casa a olhar para as paredes. Vivo sozinha. Aqui divirto-me. Há atividades. Já fui à SIC e estive com o João Baião. É outra coisa", confere a utente Marinha Martins, numa pausa do croché.