Instituição alega dificuldades financeiras e alija responsabilidade nas escolas e na Câmara. Pais e mães revoltados
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O email do Centro Social Fonte da Moura chegou na sexta-feira e assustou os pais das mais de 50 crianças do ATL do bairro. Era a chamada para "uma reunião urgente". Logo se soube o assunto: a Obra Diocesana de Promoção Social (ODPS) anuncia o fecho dos ATL de 12 centros da cidade já em 2021-22. Em causa cerca de meio milhar de crianças e pais e mães que não sabem a quem deixar os filhos durante o trabalho.
A reunião no Centro Social de Fonte da Moura está marcada para as 17 horas de quarta-feira, mas os pais já se consideram confrontados com o facto consumado. A convocatória tem "apenas um assunto", a "continuidade da resposta social de CATL a partir de 1 de setembro de 2021".
Sem saídas
"Amanhã [hoje], vamos saber mais. Há uma reunião no Carriçal, pelos mesmos motivos. Uma coisa é certa: a nossa reunião não vai ser nada fácil", afirma Patrícia Alves. Para esta mãe de 34 anos, que já estava a tratar da inscrição da filha de cinco anos no ATL de Fonte da Moura, a perspetiva é má. "Onde vou deixar a minha filha? Vou perder o meu trabalho? Vou para o desemprego? Como vou sustentar quatro filhos?", interroga-se a funcionária de limpeza no NorteShopping.
São as questões que se erguem aos pais do agrupamento de escolas da Fonte da Moura e dos ATL instalados nos bairros de condição social desfavorecida. E as mesmas preocupações que assaltam Cristiana Silva. Funcionária dos serviços de alimentação do Hospital de S. João, esta mãe de 30 anos sempre foi trabalhar sossegada, por saber que a descendência - Luana, de 12 anos, e Marcelo, de nove - estava entregue a bons cuidados. Agora, vê-se sem saída à vista: "Pelo menos, deixem vagas para os filhos dos pais que trabalham".
"E as famílias monoparentais, como vão fazer?", pergunta Liliana Lima, de 39 anos, mãe de dois filhos, Sandro (12) e Rafael (11). "E uma mãe solteira, como eu? Como faço? A minha Beatriz está triste. Tem 11 anos e está aqui desde sempre", atalha Tânia Silva, de 38 anos.
"Entidades avisadas"
"Infelizmente, a nossa Instituição atravessa uma fase de elevadas dificuldades financeiras, que comprometem a sua sustentabilidade a curto prazo", lamenta a Obra Diocesana.
A ODPS observa que, em 2019, o Governo concretizou a transferência de competências e responsabilidades de ATL para os municípios. Verifica que tem "conhecimento de que, em muitos municípios, já existem agrupamentos escolares que asseguram as atividades", com "evidência de vantagens no foro socioeducativo para os alunos e famílias". Esclarece, ainda, que informou "as entidades que podem intervir neste processo".
Dados
Crise
"Um dos fatores que contribuem para esta situação é também o desequilíbrio entre o custo das respostas sociais de Centro de Atividades de Tempos Livres face às receitas obtidas", observa a ODPS.
Obra nos bairros
Detalhes
Além da inscrição anual (45 euros), a frequência de um CATL da ODPS custa uma mensalidade média rente a 50 euros por criança. Por mais 30 euros mensais, as crianças têm almoço e lanche.
Dois mil utentes
A Obra tem centros de apoio familiar e aconselhamento parental e uma cantina social, apoiando dois mil utentes, incluindo os centros de dia para idosos. Tem cerca de 400 trabalhadores. Responde à diocese do Porto.
Donativos e apoios
Fundada em 1964, tem 12 centros em bairros carenciados da cidade do Porto, instalados em edifícios municipais. Vive de donativos e de apoios da Segurança Social.