Já custou ao município 2,8 milhões de euros e foi interrompida devido a uma auditoria que detetou irregularidades. População não encontra respostas e a autarquia nada diz.
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Para quando a conclusão da construção do Estádio Municipal de Espinho? A questão é colocada por muitos munícipes, mas ninguém parece ter a resposta, nem mesmo a autarquia, dona da obra que parou após um relatório que deu conta de várias irregularidades.
A construção do estádio, iniciada em 2021 e suspensa há cerca de um ano e meio, já terá custado aos cofres municipais cerca de 2,8 milhões de euros e vai necessitar de mais sete milhões para ser finalizada.
Ao JN, em setembro de 2023, o atual Executivo, liderado por Maria Manuel Cruz, afirmava que, após uma auditoria, tinham sido detetadas várias irregularidades. Este foi o motivo apontado para a paragem da empreitada. Os resultados da auditoria seguiram para o Tribunal de Contas, a Direção-Geral das Autarquias Locais e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, “solicitando a intervenção destas entidades na resolução dos entraves jurídicos e legais que resultam dos factos apurados”.
"Atraso é gravíssimo"
Desde então, tem imperado um profundo silêncio, que um grupo de “notáveis” da cidade, com ligações ao desporto e a outras atividades, tenta quebrar, através de um manifesto, para já sem resposta. “A situação chegou ao limite e parece estar no esquecimento. Quisemos alertar para a necessidade de se concluírem as obras”, explica ao JN Bruno Cabral, um dos promotores do Manifesto 110, que inclui o treinador Manuel José, entre outros. Bruno Cabral diz que “está quase meio estádio construído”, mas que “falta vontade política”.
Se os entusiastas pelo desporto, e mais concretamente pelo Sporting Clube de Espinho, anseiam ver o estádio terminado, também o comércio e a restauração locais estão interessados no retomar dos trabalhos. “O atraso é gravíssimo. Quanto mais tarde a obra for retomada ou não for feita, mais a cidade perde”, afirma Carlos Maragato, do Restaurante Maragato. Justifica que não havendo jogos em casa do principal clube do concelho, “não há clientes para visitarem a cidade, o comércio e os restaurantes”. “Uma cidade sem o clube é uma cidade sem identidade, sem turismo, quase morta nos meses de inverno”, alerta.
Diz faltar informação por parte da autarquia, mas encontra uma explicação: “Deduzo que a nossa presidente da Câmara Municipal esteja com receio de ser acusada de alguma coisa derivada ao passado recente. Não deve querer estar ligada a qualquer problema”.
“Problema político”
Para João Freitas, outro empresário ligado à restauração e há décadas membro ativo do Sporting Clube de Espinho, a paragem é uma “perrice” dos políticos. “Trata-se de um processo político e não há vontade de gerir este problema por parte dos políticos”, considera. “Fazem-se promessas em época de eleições e depois ninguém cumpre. Não entendo como é possível, parece que se fazem projetos em cima do joelho”, adianta.
O JN tentou obter esclarecimentos por parte da Câmara de Espinho, mas sem sucesso.
Iniciativa a pedir o fim da suspensão
Circula um manifesto na cidade a “reclamar a conclusão do estádio”, entretanto suspensa. “É uma vergonha”, lamenta-se.
A saber
Primeira pedra
Em abril de 2006, foi lançada a primeira pedra pelo então presidente da Câmara, José Mota. As obras do atual estádio tiveram início com o presidente Pinto Moreira, em 2021.
Empreendimento
O terreno do antigo estádio do Espinho, vendido pelo clube, vai dar lugar a um empreendimento de habitação. Ao contrário do estádio municipal, está em bom ritmo de execução. O clube tinha dívidas elevadas que foram colmatadas em parte com esta venda.
Garantia
Em setembro de 2023, a autarca Maria Manuel Cruz garantia manter a intenção de construir o estádio, “assim que seja possível resolver os entraves legais que se colocam neste momento”.