"Coletivo oitoo" identifica potencial de criação de espaços de alojamento e de trabalho em pisos térreos da Invicta.
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Numa altura em que comprar uma casa nova ou arrendar um espaço para trabalhar, no centro do Porto, pode atingir valores astronómicos, o "coletivo oitoo" - formado pelos arquitetos Laura Lupini, João Machado, Diogo Zenha Morais e Nuno Baptista Rodrigues - propõe "reativar a custos controlados" os rés do chão que se encontrem devolutos, dando-lhes novos usos. O modelo, além de permitir que o centro da cidade "volte a ser repovoado", oferece espaços generosos, respondendo "às necessidades das famílias grandes, mas também às de quem procura a casa-ateliê, uma habitação térrea sem obstáculos físicos ou uma casa partilhada", explicaram ao JN os arquitetos.
Foi na busca de um espaço que servisse para acolher o escritório, que João, Laura, Diogo e Nuno encontraram um antigo armazém, que estava fechado desde 1974. "Como é muito grande, foi transformado num espaço de cowork e em setembro de 2018 foi inaugurado", resumiu Laura.
O espaço, que tem capacidade para acolher cerca de 50 pessoas, com um generoso jardim, "ainda tem lugares vagos, mas já tem uma ocupação de 80%", disse João. "Muitos freelancers das mais diversas áreas como do design, tradução, medicina e digital media", acrescentou Laura. "Com a particularidade de estarmos a 15 minutos a pé da Rua de Santa Catarina", sublinhou Diogo.
Projetos de portas abertas
O Armazém Cowork, situado no número 63 da Rua António José da Silva, e uma casa, no número 763 da Rua Álvaro Castelões, ambos na freguesia de Paranhos, podem ser visitados hoje e amanhã, entre as 17 e as 21 horas, para, assim, o público conhecer dois projetos de reuso de espaços de rés do chão.
A habitação, um T4 com jardim num edifício dos anos 60, tem a particularidade de já ter sido "tudo", diz João, a sorrir. "Um armazém, uma loja de produtos de eletrónica e até um ATL". Sem querer revelar o valor, o arquiteto assegura que "o preço do metro quadrado custa menos mil euros do que é pedido no prédio que está a ser construído em frente".
Numa pesquisa feita pelo JN, constatamos que em média o valor do metro quadrado em Paranhos custa 2600 euros.
"Com a grande vantagem de esta casa ter um pé-direito alto, com logradouro, acessibilidades universais para a terceira idade e outras pessoas com mobilidade condicionada", descreveu Nuno Baptista. "E bastante luz", interrompeu João Machado.
Outras das mais-valias é que estando estes rés do chão em ruas secundárias, "fora do rebuliço turístico do Centro Histórico, existe uma oferta de serviços, como escolas, restaurantes e outro comércio local", valorizou Diogo Zenha Morais.
Obstáculos
Alteração de uso
O "coletivo oitoo" reconhece que há "obstáculos burocráticos" - como a necessidade de instrução de pedidos de alteração de utilização de edifícios -, que sao um entrave para o reuso de centenas de milhares de metros quadrados.
Consentimento
Além do processo camarário, o reuso de um rés do chão obriga, por vezes, à alteração da fachada. Para isso acontecer é preciso o consentimento por unanimidade dos condóminos, o que nem sempre é tarefa fácil.
Espaços vazios poderiam alojar 1200 habitantes
Em 2017, o "coletivo oitoo" elaborou um estudo tendo como base uma área de 36 hectares, que abrangia as ruas da Constituição, Silva Escura, Serpa Pinto, e Cunha Júnior. Num universo de 581 rés do chão, foram identificados 173 vazios, correspondendo a aproximadamente 22 500 metros quadrados sem uso, que poderiam "gerar cerca de 300 habitações alojando 1200 habitantes", garantiram ao JN os arquitetos.
Se este modelo fosse replicado a todo o território da cidade do Porto, isto corresponderia a mais de um milhão m2 em rés do chão sem uso para 13 mil fogos e cerca de 50 mil habitantes.