Irmãos que perderam pai e mãe após explosão de gás são acompanhados por tia, que agradece onda solidária.
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"Tia, vamos ser muito felizes os três". A frase está escrita numa carta que Pedro Oliveira dedicou à tia Emília, quando ainda estava internado no Hospital de S. João, no Porto, depois de uma explosão de gás em casa, em Braga, em abril de 2015, que lhe roubou os pais, João e Sandra Oliveira.
Na altura, terminar a construção de uma casa - que o pai e a mãe tinham começado a edificar com as próprias mãos -, para viver com a tia e o irmão Gino era, ainda, um sonho. Mal sabia que uma onda de solidariedade iria concretizar o projeto onde a família depositava todas as economias antes da tragédia.
A porta da nova casa, na freguesia de Espinho, em Braga, abriu-se a 20 de dezembro do ano passado. "Estava uma confusão, muita coisa para arrumar, mas, dois dias depois, festejámos os 18 anos do Pedro aqui", recorda Emília, que assumiu o papel de tutora dos sobrinhos. Todos esboçam sorrisos quando a memória regressa a esse dia. "Achei que a casa ia demorar mais tempo a ser construída. Foi um sonho concretizado e o dia do aniversário foi espetacular", confessa Pedro, que atingiu a maioridade e, quatro meses depois, preteriu os estudos para assumir a responsabilidade de um trabalho numa empresa de peças de automóveis.
Informática
Gino Oliveira, com 13 anos, frequenta o oitavo ano na Escola Básica de Gualtar e tem interesse por informática. Mas só gosta "mais ou menos" de estudar, assume, com um jeito envergonhado. No entanto, na nova casa cumpre "todas as tarefas" designadas pela tia, mesmo que, às vezes, se perca no tempo a jogar Fortnite na Playstation. Diz que faz a cama, arruma a sala e dá de comer aos animais, entre eles, uma caturra, a quem ensinou a cantar o "Atirei o pau ao gato". "Às sete da manhã já está acordada", atira.
Sentado à mesa a ouvir as peripécias desta nova vida em família está, também, João Granja, bancário que ajudou a ultrapassar todas as burocracias e a reunir esforços em torno do sonho dos irmãos. Emília fala de um "braço-direito". O também deputado municipal explica que o seu papel começou com a colaboração na criação de uma conta solidária "transparente", depois seguiram-se contactos com várias entidades e instituições.
A casa ganhou forma graças à ajuda da Fundação Benfica e da Prozis, que financiaram a obra. A associação Habitat ofereceu o projeto original e a Câmara de Braga também se envolveu nesta onda solidária, que contou ainda com o Agrupamento de Escolas Carlos Amarante e a associação de pais. A campanha "Casa pronta" permitiu rechear a moradia.
Irmãos mantêm tratamentos
A 15 de abril de 2015, uma explosão de gás na casa onde moravam, na freguesia de Espinho, em Braga, tirou a vida a João Oliveira, com 43 anos, e à mulher, Sandra, com 38. Os filhos, Pedro e Gino, sofreram queimaduras graves e mantêm-se vigiados pelo Hospital de São João, no Porto, onde fazem as cirurgias. Durante a semana, têm ainda sessões de fisioterapia e hidroginástica, em Braga.