Palmilham as ruas da cidade, equipados com tecnologia de ponta e com tablets com realidade aumentada. Marco Costa, João Duarte e Ulisses Rangel integram a Equipa de Gestão de Perdas e Afluências Indevidas da Águas da Região de Aveiro (AdRA), a empresa que gere 10 municípios do distrito.
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São uma espécie de "polícias da água", com um objetivo claro: encontrar fugas invisíveis, subterrâneas, na rede de abastecimento. Para isso, é necessário escutarem o que acontece debaixo de terra. De dia e de noite. O certo é que a empresa, em sete anos, já conseguiu reduzir para metade o volume de água que se desperdiça em fugas.
"Contamos com os nossos clientes e com as pessoas que passam na rua para nos avisar das fugas visíveis. Para as que estão escondidas, temos que fazer este trabalho", conta Marco Costa, responsável pela equipa, enquanto prepara uma jornada noturna a calcorrear a Avenida Dr. Lourenço Peixinho, a principal rua de Aveiro. Um dos 500 sensores da rede que, todos os dias, enviam dados, indicou que naquela zona existe uma fuga, que não é visível.
poupança de 1,3 milhões
Durante o dia, Ulisses, equipado com o geofone - uma espécie de microfone para escutar o que está no subsolo -, pesquisou a zona das Barrocas e não encontrou nada. Ficou a faltar, por isso, percorrer a Avenida. "Esta é uma das ruas onde durante o dia, devido aos ruídos parasitas, como o barulho dos carros, não conseguimos ouvir as fugas", explica Marco.
De acordo com Fernando Vasconcelos, presidente da AdRA, "em 2020, em mais de 2000 fugas que houve, 93% eram invisíveis" e foram as equipas da empresa que as detetaram. Tal corresponde a 2,5 milhões de metros cúbicos poupados e, consequentemente, a 1,3 milhões de prejuízos diretos que a empresa não teve. Isto porque 80% da água distribuída pela AdrA é comprada, a uma média de 50 cêntimos por litro.
Entre 2010 e 2013, a AdRA mapeou toda a rede e todos os ramais, que ligam mais de 155 mil locais de abastecimento. Os dados eram claros: a rede tinha perdas de água superiores a 40%. Por isso, foi colocado em marcha um projeto para as diminuir.
"Além da componente económico-financeira, existe outra mais importante, que é a ambiental. Estamos muito satisfeitos por termos descido de 40 para 20% de perdas", refere Fernando Vasconcelos. Os números significam que, atualmente, em 100 litros de água que chega ao cliente, 20 perdem-se. Para se ter uma ideia, o que se perde por ano daria para abastecer o concelho de Aveiro durante um mês e meio.
O chamado Projeto de Eficiência Hídrica foi, diz a empresa, "o primeiro do género em Portugal". Através dele, fez-se uma modelação matemática da rede, que permitiu simular virtualmente como a mesma se comporta. Depois, seccionou-se a rede em zonas e colocaram-se medidores de caudal e de pressão. A partir daí, os especialistas analisam os dados, diariamente, definindo zonas de atuação. E Marco, João e Ulisses, entre outros, vão para a rua detetar o ponto específico onde houve uma fuga.
Pormenores
Da deteção à localização - Marco Costa explica que "uma coisa é detetar a fuga numa zona, que tanto pode ter quatro como 20 quilómetros, outra é localizá-la e saber ao certo onde está, num espaço de 50 centímetros".
Herança de 10 municípios - Em 2010, a AdRA herdou os sistemas de abastecimento e de saneamento de 10 municípios (Ílhavo, Albergaria-a-Velha, Murtosa, Águeda, Oliveira do Bairro, Aveiro, Ovar, Estarreja, Sever do Vouga e Vagos). "A situação era muito diferente em todos eles. Uns tinham contadores, outros não tinham. Hoje, toda a rede está setorizada e conseguimos controlar toda a água que entra e que sai", sublinha Fernando Vasconcelos.
Abaixo da média nacional - De acordo com o presidente da empresa, a média nacional é de 125 litros por ramal (edifício), e por dia, de perda. "Nós temos perdas de 60 litros por dia e por ramal", revela.
Diminuir mais as perdas - O projeto em curso tem duração até 2023. Mas o objetivo da empresa já está "praticamente atingido". "Se quiséssemos diminuir ainda mais as perdas, também teríamos que gastar mais dinheiro e o consumidor gastaria mais. É necessário um equilíbrio. O objetivo é manter este trabalho, de forma permanente, porque, se parássemos, em dois anos regredíamos aos valores iniciais", adianta Fernando Vasconcelos.
120 milhões investidos - A empresa já investiu, em 10 anos, 120 milhões de euros. Desses, 30 milhões foram angariados através de fundos comunitários e 90 mil provieram da tarifa.
7000 quilómetros de rede - A AdRA diz ser a maior entidade gestora do país em quilómetros de rede. Tem quase sete mil - "dá para atravessar a Europa duas vezes" -, dos quais quatro mil são de abastecimento.