Há um alambique com quase seis metros de altura em cima do carro alegórico da escola de samba Costa de Prata e, ao lado, vários foliões cortam esferovite e papel Eva para terminar rosas e outros adereços. Passa das 10 horas da noite e deverão ficar a trabalhar até de madrugada.
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São um exemplo de como a grande família que prepara o Carnaval de Ovar não poupa esforços para que os desfiles tenham qualidade. “Está nas raízes” das gentes de Ovar, assegura o vereador Alexandre Rosas, apontando que na avenida estarão mais de 2000 foliões, de 20 grupos e quatro escolas de samba.
“Estamos quase a trabalhar 24 horas, repartidos em vários pontos da cidade, porque na sede não conseguimos fazer tudo. Neste momento, todo o tempo livre é para isto”, conta Maria Abrantes, no interior da sede da Costa de Prata, na Aldeia do Carnaval.
“As coisas estão um bocadinho atrasadas, mas orientadas. É tradição, faz parte da magia do Carnaval”, acrescenta o presidente, Ricardo Pinho, que não tem dúvidas de que o desfecho será positivo: “Estamos certos que vamos fazer mais um grande Carnaval”.
Ao longo dos muitos meses de preparação, os elementos da escola trabalham e divertem-se lado a lado, “reforçando laços de amizade”. “Aqui já fiz grandes amizades e parte do que sou hoje deve-se ao facto de andar aqui, pois isto também nos ajuda a crescer como pessoas”, acrescenta Pinho.
Muitos dos que desfilam têm laços familiares. É o caso de Tânia Reis, 48 anos, que entrou na escola com 11 anos e tem ali a mãe e uma irmã. “Os pais trazem os filhos e até já existem netos, vai passando de geração em geração”, assegura. “Chamamos à escola de samba a nossa segunda casa e é como se fosse uma segunda família, onde existe de tudo, momentos bons e menos bons”, completa Maria Abrantes.
No grupo carnavalesco Xaxas está instalada “uma serralharia autêntica”, brinca António Alberto Lopes, 72 anos, presidente da assembleia geral. Ainda pouco se vê do carro alegórico e este ano apresentam “estruturas grandes”, mas “domingo, às sete da manhã, deve estar tudo pronto”, diz, sem perder a calma, o presidente Carlos Ramos, explicando que a última semana e meia é, habitualmente, de “imenso trabalho, pressão e adrenalina”.
O Carnaval de Ovar é uma “escola da vida, transmitimos alguns valores que pensamos serem importantes. Como o saber estar com outras pessoas, com educação e respeito pelo próximo, e a aquisição de competências nos workshops de trabalhos manuais”, acrescenta Carlos Ramos.
Também o grupo de passerelle Joanas do Arco da Velha aproveita todo o tempo livre para terminar o carro, acessórios e ensaiar. Por estes dias (e noites), replicam nas ruas da zona industrial o que o público vai poder ver domingo e terça-feira. “A coreografia é importante e estamos a ensaiar na rua porque temos tempos para cumprir e podemos manter o elemento surpresa”, explica Cláudia Araújo.
A colega Carolina Nunes assegura que estão a criar “algo magnifico” e que no domingo e terça vão dar “um showzaço na avenida”.