João Torres, pároco de Priscos, em Braga, está indignado "com as burocracias" que estão a prejudicar o projeto "Mais Natal Priscos", que, há sete anos, dá trabalho a reclusos do Estabelecimento Prisional de Braga.
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Cinco a seis homens costumam ser chamados para ajudar na construção e manutenção do presépio ao vivo, mas, desde o ano passado, a freguesia passou a receber só uma pessoa.
"O argumento da covid-19 serve para tudo, agora. Os procedimentos deveriam ser mais céleres e não ficarem presos a burocracias", critica João Torres, sublinhando a importância do projeto na reinserção dos reclusos na sociedade.
"Permitir que reclusos antes do fim da sua pena passem algum tempo na comunidade é um elemento vital para sua reintegração na sociedade. Pode ajudá-los a obter uma valiosa experiência de trabalho, obter qualificações ou aprender novas habilidades, não só técnicas, mas também sociais", considera o pároco.
Quarenta e sete anos
Em sete anos, o presépio ao vivo de Priscos já contou com o trabalho de 40 reclusos. Os beneficiários cumprem oito horas diárias de serviço, com remuneração mensal, sendo que parte do vencimento fica retido numa conta para, depois, terem um pé-de-meia quando saírem em liberdade.
"A paróquia de Priscos já gastou mais de 200 mil euros neste projeto. É a única de Portugal a realizar esta missão", afirma João Torres, à espera de luz verde da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais para voltar a receber mais pessoas. "Como é possível haver instituições a querer ajudar na reinserção de reclusos e o Estado não dar resposta?", questiona o padre.
Regressa sem comes e bebes e com bilhete
O presépio ao vivo de Priscos, em Braga, vai regressar em dezembro, depois de a pandemia ter obrigado a cancelar a última edição. Este ano, por questões de segurança, não haverá venda de comida e bebida e, para controlar a afluência ao recinto, os adultos terão de pagar entrada. A iniciativa decorre numa área de 35 mil metros quadrados e conta com 90 cenários com cerca de 600 figurantes, sobretudo, da freguesia.