Ainda há cinco desalojados, depois da explosão que provocou a derrocada de um prédio no domingo. Corpo de jovem músico foi encontrado de madrugada.
Corpo do artigo
Eram 7.30 horas quando Ana Luísa ouviu uma explosão e saiu de casa a correr. Ao chegar ao número 41 da Rua de Santa Marta, no domingo de manhã, já só viu ruínas e o desespero dos sobreviventes. "Vi um senhor a sair pelo próprio pé, mas voltou atrás à procura do filho nos escombros. Foi aí que se queimou mais", descreve a moradora.
Era José Reis, advogado de 60 anos, e procurava Gastão dos Reis, 24 anos, baixista da banda Zarco. Gastão só seria encontrado, já sem vida, ontem de madrugada. Da explosão, que se suspeita ter tido origem num "fuga de gás", resultaram quatro outros feridos, que tiveram alta no próprio dia.
Gravemente ferido, José Reis foi transportado para o Hospital de São José, onde ainda permanece. O JN sabe de fonte próxima da família que "as suas cordas vocais terão ficado muito afetadas pela inalação de fumo". O advogado preparava-se para ir jogar ténis quando tudo aconteceu.
Divorciado, vivia sozinho no primeiro andar e tinha os filhos com ele esta semana. A filha escapou à explosão porque não dormiu em casa de sábado para domingo.
Trabalho meticuloso
A noite foi longa para os Bombeiros Sapadores de Lisboa que procuravam o jovem desaparecido desde domingo de manhã. O corpo acabou por ser encontrado pelas 2.30 horas. "O que dificultou o trabalho foi o material que estava suspenso nos pisos superiores. Tivemos de retirar os escombros iniciais da frente do edifício utilizando escavadoras. Depois, escavávamos, os cães pisteiros entravam para reconhecer se o desaparecido ainda estava vivo. Devagarinho, estivemos com uma máquina mais pequena a retirar peça a peça. Foi um trabalho muito meticuloso", explica o comandante dos Sapadores Tiago Lopes.
A derrocada do prédio obrigou ao corte do trânsito na Rua de Santa Marta, mas ao final da tarde de ontem já era possível circular.
Das 47 pessoas que ficaram desalojadas após o desabamento, 42 já regressaram a casa. O alojamento das restantes cinco continua assegurado pela Câmara Municipal de Lisboa, à semelhança do que já tinha acontecido no domingo, por ainda não estarem garantidas todas as condições de segurança para regressarem, avançou ao JN fonte do gabinete da Proteção Civil da Câmara de Lisboa.
"Parecia uma bomba"
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Elisabete Alves, moradora no número 39, prédio vizinho daquele que desabou, esperava ontem à tarde por novidades sobre quando poderia voltar para casa. Por opção, dormiu em casa de familiares, com o marido e os dois filhos e recorda com emoção a noite anterior.
"Pensávamos que era um terramoto. O nosso corpo saltou da cama. Saí com o meu filho de dois anos ao colo, foi assustador". No edifício, onde vivem dez pessoas, houve "apenas danos estruturais", como vários vidros quebrados, paredes rachadas e a claraboia partida.
Domingas Pascoal, habitante do mesmo edifício e também desalojada, passou a noite num hotel. Tem dificuldade em falar do incidente.
"Estávamos todos a dormir. Parecia uma bomba. Vi a parede do quarto a rachar e fogo no quintal e pensei em saltar da janela, tive medo de não sobreviver", recorda.
António Ramalho, morador no número 43, vai contratar policiamento 24 horas por dia para vigiar o edifício. "Tenho receio que alguém entre".
Restaurante em cinzas
O prédio que desabou tinha quatro andares e no rés do chão funcionava o restaurante Mastro, agora reduzido a cinzas. António Santos, proprietário do estabelecimento ali há 20 anos, e sete funcionários ficaram sem emprego. "É uma tristeza muito grande, só tinha esta fonte de rendimento".
António conhecia bem José Reis - "É meu advogado" - e o filho. "O Gastão estava muito feliz porque tinha dado um concerto na quinta-feira na Altice Arena e tinha ganhado dinheiro num ano de poucos concertos. Dois dias depois morreu".