Menino de sete meses faleceu em casa, em Cantanhede, dez horas depois de ter tido alta do Pediátrico de Coimbra.
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Os pais do bebé de sete meses que ao início da manhã da passada terça-feira morreu em casa, em Escapães, Cantanhede, cerca de dez horas depois de ter tido alta do Hospital Pediátrico de Coimbra, vão processar o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC), que integra o Pediátrico. A informação foi avançada este sábado ao JN por Sónia Borges e Eusébio Jesus, os pais de Lorenzo, o menino que faleceu em casa. Consideram que o bebé não deveria ter tido alta e, por isso, querem levar a tribunal os responsáveis médicos, "independentemente do resultado da autópsia", que só deverá ser conhecido dentro de várias semanas. O CHUC considera que não havia "sinais clínicos ou de alarme que fizessem prever o lamentável desfecho".
A tragédia começou a desenhar-se no domingo passado, dia em que Lorenzo completou sete meses de vida. O menino, contam os pais, "começou com febres altas, vómitos e diarreia". Levado para o Hospital Pediátrico de Coimbra, na segunda-feira de manhã, o bebé foi diagnosticado com rotavírus (infeção viral do trato digestivo que pode causar desidratação grave), tendo sido medicado e mandado para casa, em Escapães, onde viria a falecer na manhã seguinte, perto das seis horas.
Sónia e Eusébio, de 44 e 46 anos, que têm mais três filhos menores, não se conformam. "Eu culpo o médico", afirma transtornado o pai, que considera que o filho deveria ter ficado internado no hospital para observação.
A criança, que tinha sido levada pela mãe de táxi para o hospital, pouco depois do meio-dia de segunda-feira, acabou por regressar à habitação da família, de acordo com a mãe, apenas com indicação para tomar ibuprofeno, paracetamol e umas gotas para parar a diarreia. "A única coisa que fizeram foi a análise à fralda que o menino trazia, mais nada", queixa-se Sónia, que exige saber "porque razão me mandaram embora com o menino assim".
Apesar de garantir ter seguido a receita médica, Sónia diz que "a medicação não ajudou em nada". Aflitos, às 23.30 horas, os pais ainda lhe deram um banho de água tépida, na tentativa de baixar a febre. "Não lhe podíamos mexer no corpo que ele gritava", recorda ao JN a mãe, que pouco antes das seis horas ligou ao INEM e seguiu as indicações que lhe eram dadas por telefone, na tentativa de o reanimar. Os paramédicos, que terão continuado as manobras de reanimação da criança, acabaram por se dirigir à mãe e lamentar não haver mais nada a fazer. "Eu sabia. Ele morreu nas minhas mãos".
Posição do hospital
O CHUC considera que não havia "sinais clínicos ou de alarme que fizessem prever o lamentável desfecho". Hoje, em resposta por escrito ao JN, descreve o processo, começando por dizer que "a criança foi observada em contexto de um quadro de gastroenterite aguda de causa virusal - rotavirus". Segundo o Pediátrico, "apresentava um bom estado geral, sem sinais de desidratação".Acrescenta que "estavam registadas quatro dejeções diarreicas, mas já não apresentava vómitos, havendo registo de tolerância alimentar". "Teve alta como preconizado neste quadro clínico em lactente com tolerância alimentar, sem sinais de desidratação, com prescrição de reforço hídrico e de vigilância", refere na resposta, concluindo que "não estão descritos outros sinais clínicos ou de alarme que fizessem prever o lamentável desfecho".