Habitantes da Gafanha da Encarnação vão informar o Ministério Público de Ílhavo sobre o "destino desconhecido" da herança do padre Artur Sardo, falecido em 2000, que deveria servir para construir um lar de idosos.
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O pároco Artur, num primeiro testamento, e posteriormente em documento não oficializado (mas reconhecido pela Diocese de Aveiro), doou parte dos seus bens, constituídos por dinheiro depositado em bancos, à Fábrica Paroquial da Gafanha da Encarnação (GE) para a construção de um lar de idosos. Quase nove anos depois, a população da GE desconhece o destino da herança. "Nem os padres, nem o bispo nos diz qual o montante deixado pelo padre Artur, onde é que está depositado e quando é que a igreja pretende concretizar o projecto, para o qual até já existe um terreno, doado pelo Ministério da Agricultura, perto do cemitério local", refere, ao JN, Manuel Magueta, um dos elementos da auto-intitulada Comissão Pró-Construção do Lar de Idosos.
"Exigimos que se cumpra a vontade manifestada em testamento, por isso, vamos informar, com documentos, o Ministério Público", revela Manuel Mateiro, outro membro da comissão.
O testamento a que Mateiro se refere foi feito em Maio de 1999, ano e meio antes da morte de Artur Sardo. Nesse testamento, o padre Artur deixou um apartamento na praia da Barra para o Seminário de Évora (onde estudou), ficando o restante dinheiro para a construção de um "centro de dia" na Gafanha da Encarnação. Em 10 de Fevereiro de 2000, Artur elaborou um novo testamento, revogando o anterior. Manteve o testamenteiro, padre Lé, reafirmou o desejo do Seminário de Évora ficar com o imóvel da Barra mas não se refere à infra-estrutura para idosos. A "omissão" ao lar de idosos não impede que a igreja reconheça o desejo de Artur Sardo. Em 14 de Setembro de 2006, o bispo D. António Marcelino recorda que o padre Artur expressou, "oralmente e através de documento não oficializado, a sua vontade de que os bens doados à fábrica da igreja se destinavam à construção de um lar para idosos". Os bens doados, refere o decreto, "são constituídos por dinheiro, depositado em instituições bancárias". O bispo ordena, então, "que se faça a transferência dos depósitos para o Centro Paroquial da Gafanha da Encarnação" e que "o dinheiro transferido terá a indicação de que se destina ao 'lar de idosos', não podendo ser aplicado noutro sentido", conclui D. Marcelino, entretanto substituído por D. António Francisco.
A Comissão Pró Lar receia que o dinheiro possa ter sido gasto em algo para o qual não estava destinado. Mais ainda quando ouviram dizer que o montante estava numa conta no estrangeiro. "O padre Lé garantiu-nos que o padre Artur tinha deixado 200 mil contos (um milhão de euros), mas nunca nos disse onde estava o dinheiro. Recentemente, o actual bispo de Aveiro disse-nos que o dinheiro estava numa conta em Vigo, Espanha, mas não falou no montante", conta Magueta. A revolta dos paroquianos é maior porque "o lar de idosos faz falta, há um terreno disponível e a Câmara de Ílhavo está disposta a ajudar", lembra João Ribau.
O presidente da Câmara de Ílhavo, Ribau Esteves, confirma que a Autarquia está disponível para ajudar "técnica e financeiramente" na construção do lar, "um equipamento que faz falta à freguesia", reconhece.